terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Only Hope - Mandy Moore Legendado

Mandy Moore - Cry (tradução)


Eu sempre me lembrarei
Era fim de tarde
Durou pra sempre
E terminou muito rápido
Você era completamente sozinho
Brilhando em um céu cinzento
Eu estava mudada

Em lugares que ninguém encontraria
Seus sentimentos estavam escondidos
Foi então que compreendi
Que para sempre estaria em seus olhos...
No momento em que o vi chorar

Era final de setembro
E eu o havia visto antes
Você sempre foi frio
Mas eu nunca estive certa disso
Você era completamente sozinho
Brilhando em um céu cinzento
Eu estava mudada

Eu queria te abraçar
Eu queria fazer isso ir embora
Eu queria te conhecer
Eu queria descobrir tudo sobre você

Tudo sobre Mandy Moore


Amanda "Mandy" Leigh Moore (10 de Abril de 1984 em Nashua, New Hampshire) é uma cantora de pop e folk, compositora e atriz. Ela cresceu na Flórida e veio para a fama na adolescência, depois do lançamento dos álbums So Real, I Wanna Be with You, e Mandy Moore. Moore também entrou na carreira de atriz, estrelando no filme A Walk to Remember de 2002 e depois apareceu em outros filmes adolescentes e adultos. Dois de seus filmes, Saved! e American Dreamz, são sátiras onde Mandy faz vilãs.

Os antigos relacionamentos amorosos dela foram muito comentados pela crítica. Em 2007, depois de 4 anos sem lançar um CD, ela lança Wild Hope, mostrando um estilo mais adulto e se distanciando totalmente da cantora adolescente de antes.


Cinema

Sua primeira aparição no cinema foi como a futil Lana Thomas, antagonista do filme The Princess Diaries. Antes, ela havia feito uma dublagem no filme Dr. Dolittle 2. Em 2002, ela emplacou a carreira de atriz ao dar vida a Jamie Sullivan, no aclamado filme A Walk to Remember. Ela também participou dos filmes How to Deal, Chasing Liberty e All I Want/Try Seventeen.

Depois, ainda participou das produções Saved! e American Dreamz como vilã, fugindo do estereótipo "atriz de filmes para adolescentes".

Em 2007, participou dos filmes Because I Said So, License to Wed, Dedication e o filme a ser lançado Southland Tales, perdendo definitivamente o estereótipo adolescente.

Filmografia

Ano Título Papel Informações
2001 The Princess Diaries Lana Thomas
2002 A Walk to Remember Jamie Sullivan
Kingdom Hearts Aerith Gainsborough Apenas voz, Video-game
2003 How to Deal Halley Martin
Try Seventeen (também conhecido como All I Want) Lisa Diretamente para vídeo.
2004 Chasing Liberty Anna Foster
Saved! Hilary Faye Bilheteria: $8,940,582 (Filme independente)
2005 Racing Stripes Sandy (voice) Bilheteria: $49,772,522
2006 American Dreamz Sally Kendoo
Irmão Urso 2 Nita Apenas voz
Direto para vídeo em 29 de Agosto, 2007
Scrubs Julie Quinn Participação em Série de TV.
2007 Because I Said So Milly Wilder 2 de Fevereiro, 2007 $42,674,040
License to Wed Sadie Jones 3 de Julho, 2007 $43,359,496
Dedication Lucy Riley 24 de Agosto, 2007
Romance and Cigarettes Baby Murder 7 de Setembro, 2007
Southland Tales Madeline Frost Santaros 9 de Novembro, 2007

Baixe aqui a música Only Hope (Um Amor para Recordar) em português na voz de Crís Duran


http://www.4shared.com/dir/5332981/951744c0/sharing.html

Tudo sobre Shane West


http://www.geocities.com/fabrizioguadeli2/shane_west.html

Shane West (nacido 10 de Junho, 1978) é um actor estadunidense. Ele é conhecido por seus papéis nas séries ER e Once and Again e no filme A Walk to Remember.

nascido em Baton Rouge, Louisiana é filho de Catherine, advogada, e Don, gerente de farmácia.[1] Ele tem duas irmãs, Simone e Marli Ann. Com dez anos de idade, West se mudou para a Califórnia com sua mãe e a irmã Simone.

Carreira

O primeiro papel principal dele foi em 1999 na série de tv "Once and Again", como "Eli Sammler". O primeiro filme de West foi como papel de suporte em 1999 no filme "Liberty Heights", filme sobre uma família de Judeus em Baltimore. Ele também co-estrelou nas comédias adolescentes "Whatever It Takes" (2000) e "Get Over It" (2001). West fez um par com a cantora/atriz Mandy Moore em 2002 para "A Walk to Remember", que foi um sucesso acumulando $41 milhões dentro do Estados Unidos.[2] Ele também apareceu no videoclipe da Mandy Moore para o single "Cry". Em 2003, West apareceu em "The League of Extraordinary Gentlemen" e em 2004, ele uniu o elenco da NBC's para a séries de televisão médica ER como o "Dr. Ray Barnett". West terminou em 2007 a temporada para Supreme Courtships, uma série da Fox Network. Ele estrelou recentemente o filme independente "What We Do Is Secret", como Darby Crash, um membro da banda punk The Germs nos anos 70; o filme ainda não foi lançado. Os membros da banda ficaram impressionados pelo desempenho de West.

Vida Pessoal

West namorou as atrizes Rachael Leigh Cook, Monica Keena, Marla Sokoloff, Dina Meyer, Jenna Dewan e a cantora CC Sheffield.

Filmografia

Ano Título Papel
1999 Liberty Heights Ted
2000 Whatever It Takes Ryan Woodman
2001 Get Over It Bentley 'Striker' Scrumfeld/Demetrius
A Time for Dancing Paul
Ocean's Eleven Ele Mesmo
2002 A Walk to Remember Landon Carter
2003 The League of Extraordinary Gentlemen Tom Sawyer
2007 The Optimist Bo
What We Do Is Secret Darby Crash



Only Hope (Um Amor para Recordar)

Em minha alma há uma bela canção
Que há tempos eu tento expressar
Com palavras também
E me vejo num frio sem fim
Mesmo assim posso ouvir
Sua voz entoando outra vez

Então vou me repousar
E ergo as mãos ao céu para orar
Pra que eu seja sempre seu
Pra que eu seja seu,
pois sei que o meu alento é você.

Quero ouvir as cantigas dos céus
Das galáxias dançando e sorrindo alegres também
Se os meus sonhos tão longe eu sentir
Cante ao menos canções dos seus planos para mim outra vez

Então vou me repousar
E ergo as mãos ao céu para orar
Pra que eu seja sempre seu
Pra que eu seja seu,
pois sei que o meu alento é você.

Eu dou meu destino a ti
E tudo que há em mim
Quero sua música
Cantada com todo o meu ser
Com meu fôlego sim
Devolvo tudo a ti

Trilha Sonora - Um Amor para Recordar


Nome das Músicas :
01 - Switchfoot - I Dare You To Move
02 - Mandy Moore - Cry
03 - Mandy Moore & Jonathan Foreman
04 - Toploader - Dancing In The Moonlight
05 - Switchfoot - Learning To Breathe
06 - Mandy Moore - Only Hope
07 - Mandy Moore - It's Gonna Be Love
08 - Switchfoot - You
09 - Rachael Lampa - If You Believe
10 - Cold - No One
11 - West, Gould & Fitzgerald - So What Does It All Mean
12 - New Radicals - Mother, We Just Can't Get Enough
13 - Switchfoot - Only Hope



Tamanho : 45MB
Baixar!
http://usercash.com/go/1/24290/http://w13.easy-share.com/1251857.html

Links para Download do filme " Um amo para recordar "

http://www.x-filmesbr.com/2007/06/um-amor-para-recordar.html
http://www.x-filmesbr.com/2007/05/um-amor-para-recordar.html

http://wwwalldownload.blogspot.com/2007/06/um-amor-para-recordar.html

http://www.baixegratis.info/dvd-filme-um-amor-para-recordar/

http://puxando.com/

Dica: Para baixar o filme mais rápido instale o acelerador de download
http://baixaki.ig.com.br/download/Download-Accelerator-Plus.htm

Sinopse

Landon Carter ( Shane West) é um adolescente-problema e está sempre se metendo em confusões. Quando uma de suas brincadeiras dá errado e deixa um colega Um Amor Para Recordar Filmes Românticosparalisado, ele é forçado a participar do clube de drama da escola, como punição. É lá que ele conhece a inocente Jamie Sullivan (a cantora Mandy Moore), até então uma estranha para quem ele mal havia olhado. Por sua inocência, Jamie oferece ajuda a Landon em seu novo papel.

A personalidade contagiante de Jamie e a conexão natural que Landon sente leva-o a olhar para seu próprio coração e se dar conta de que há algo mais nesse relacionamento. No entanto, Jamie é uma garota com a qual Landon jamais iria querer ser visto 6 meses antes, muito diferente das meninas superficiais com quem ele costuma sair.

Falar mais sobre o filme iria estragar a jornada emocionalmente densa que é esse filme. É tão delicado e efetivo; seria como arrancar as pétalas de uma flor que está para desabrochar e não vê-la desenvolver.

O diretor Adam Shankman e sua escritora, Karen Janszen, fizeram um trabalho tremendo com o romance de Nicholas Sparks, espremendo as emoções certas dos atores principais nos momentos certos, levando a um romance realístico. O amor deles é real e a química perfeita. Todo momento em que existe a possibilidade desse amor ser destruído, a audiência também sente como se algo estivesse sendo perdido.Tudo isso sem contar que Mandy Moore é uma revelação, provando que uma cantora pode interpretar - mesmo que poucas. Sua performance como uma menina simples e de olhos tristes é impecável, em nada lembrando a Mandy Moore do cabelo louro de tranças. Junte isso com a interpretação adorável de Shane West, e temos um casal feito no céu!

36 cenas do filme foram cortadas,dessas 36,nenhuma foto foi exibida,bom,eu encontrei apenas uma foto..

Curiosidades

  • Ele foi filmado na Carolina do Norte e muitos dos sets são os mesmos do seriado Dawson’s Creek
  • O história do livro acontece em 1958
  • A maior parte da trilha sonora to filme é da banda Switchfoot; Mandy Moore era uma grande fã da banda. No entanto, quando a banda foi chamada, os integrantes não faziam idéia de quem Mandy era, apesar de que ela já era bastante famosa.
  • Shane West gostou tanto do caro que ele tinha no filme que o comprou por U$5,000.
  • Um Amor Para Recordar foi filmado em somente 39 dias.
  • Jessica Simpson foi uma das opções para o papel de Jamie Sullivan.
  • Foi filmada uma cena em que Landon cantava para Jamie a música "Only Hope", quando ela estava doente. Esta cena foi retirada do filme por ser considerada depressiva demais.
  • O orçamento de Um Amor para Recordar foi de US$ 11 milhões.

Erros

  • O cachecol de Landon desaparece e reaparece nas primeiras cenas do filme.
  • O filme se passa na Carolina do Norte, no entanto tem uma bandeira do Texas na frente da escola.
  • Quando Landon mostra a Jamie o telescópio pela primeira vez, dá para ver o transmissor do seu microfone quando ele anda em direção ao telescópio.
  • O script de Landon é dobrado diversas vezes em seu bolso e, no entanto, quando ele está ensaiando não há nenhum sinal de dobras.

Elenco e Equipe Técnica

Shane West ... Landon Carter
Mandy Moore ... Jamie Sullivan
Peter Coyote ... Reverend Sullivan
Daryl Hannah ... Cynthia Carter
Lauren German ... Belinda
Clayne Crawford ... Dean
Al Thompson ... Eric
Paz De La Huerta ... Tracie
Jonathan Parks Jordan ... Walker
Matt Lutz ... Clay Gephardt
David Andrews ... Mr. Kelly
David Lee Smith ... Mr. Carter
Xavier Hernandez ... Luis
Marisa Miller ... Ms. Garber
Paula Jones ... Sally

Direção: Adam Shankman

Edição: Emma E. Hickox

Estúdio: DiNovi Pictures

Distribuição: Warner Bros

Livro "Um amor para recordar" (A Walk to Remember)



O escritor norte-americano Nicholas Sparks é uma fábrica de romances água com açúcar. Desde 1996, Sparks tem escrito livros que rapidamente se tornam roteiros para filmes românticos. É o caso de "Um amor para recordar" (A Walk to Remember), com a cantora e ídolo adolescente Mandy Moore no papel principal. O livro (de mesmo nome) foi escrito em 1998 e transformado em filme quatro anos depois, sob a direção de Adam Shankman.

Mal recebido pelos críticos (a revista de entretenimento Entertainment Weekly entitulou-o como A Walk to Forget – Um amor para esquecer), foi aplaudido pelo público adolescente. Até porque a proposta da roteirista Karen Janszen – que teve a ajuda de Sparks – era a de conduzir um melodrama que fosse acessível aos jovens.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

UM MOMENTO INESQUECÍVEL

Título original: A Walk to Remember

Para os meus pais, com amor e saudades.
E para os meus irmãos,
do fundo da minha alma e do coração.
Micah Sparks

AGRADECIMENTOS

Como sempre, devo agradecer à minha mulher, Cathy. Fiquei muito feliz quando aceitou a minha proposta de casamento. Sinto-me ainda mais feliz hoje, porque passados dez anos sinto por ela o mesmo que sentia na altura. Obrigado pelos melhores anos da minha vida.

Queria agradecer a Miles e a Ryan, os meus filhos, que ocupam um lugar especial no meu coração. Amo-vos. Para eles, sou apenas o «Papá».

Obrigado também à Theresa Park, a minha agente literária da Sanford Greenburger Associates, minha amiga e confidente. As palavras nunca são suficientes para expressar o quanto fizeste por mim.
Jamie Raad, revisora dos meus textos na Warner Books, merece também a minha sincera gratidão por estes últimos quatro anos. És o máximo.
Depois há aqueles que me têm apoiado sempre ao longo dos anos: Larry Kirshbaum, Maureen Lgen, John Aherne, Dan MandeI, Howie Sanders, Richard Green, Scott Schwimer, Lynn Harris, e Denise Di Novi - sinto-me verdadeiramente privilegiado por ter podido trabalhar convosco.

PRÓLOGO

Aos dezessete anos, a minha vida mudou para sempre.
Sei que há pessoas que se interrogam quando digo isto. Olham-me de modo estranho como se a tentar perceber o que poderia ter acontecido nessa altura, embora raramente me dê ao trabalho de explicar. Porque vivi aqui a maior parte da minha vida, não acho que tenha de fazê-lo, a não ser à minha maneira, e isso levaria mais tempo do que a maioria das pessoas está disposta a conceder-me. A minha história não pode ser resumida em duas ou três frases; não pode ser apresentada sinteticamente de modo que as pessoas compreendam de imediato. Apesar de já terem passado quarenta anos, os que ainda aqui vivem e que me conheceram naquele ano aceitam sem perguntas a minha falta de explicação. De certa maneira, a minha história é também a história deles, pois foi uma coisa pela qual todos passaram.
Porém, foi comigo que tudo se passou mais de perto.
Tenho cinqüenta e sete anos, mas ainda consigo lembrar-me de tudo o que sucedeu naquele ano, até ao menor pormenor. Recordo-o várias vezes, dando-lhe vida de novo, e percebo que quando o faço sinto sempre uma estranha combinação de tristeza e alegria. Há momentos em que me apetece fazer com que os ponteiros do relógio andem para trás e livrar-me de toda essa tristeza, mas tenho a sensação de que, se o fizesse, desapareceria também a alegria. Assim, fico com as recordações à medida que elas surgem, aceitando-as todas, deixando que me guiem sempre que possível. Isto acontece com mais freqüência do que eu gostaria de reconhecer.

Estamos no dia 12 de Abril do último ano antes do novo milênio. Saio de casa e olho à minha volta. O céu apresenta-se encoberto e cinzento, mas ao descer a rua reparo que os cornisos e as azáleas estão em flor. Aperto o casaco, não totalmente. O tempo está fresco, embora saiba que será apenas uma questão de semanas antes de se tornar agradável e de os céus cinzentos darem lugar àqueles dias que fazem da Carolina do Norte um dos lugares mais belos da terra.
Suspiro e sinto que tudo regressa de novo.
Fecho os olhos e os anos começam a andar para trás, como os ponteiros de um relógio rodando em sentido contrário. Como se através dos olhos de outra pessoa estivesse a ver-me rejuvenescer; vejo o cabelo mudar de grisalho para castanho, sinto suavizarem-se as rugas em torno dos olhos, os braços e as pernas tornarem-se vigorosos. As lições que fui aprendendo com a idade vão ficando menos claras, e a minha inocência regressa à medida que aquele ano agitado se vai aproximando.
Depois, como eu, o mundo começa a mudar: as estradas estreitam-se e algumas se transformam em cascalho, os subúrbios são substituídos por quintas, as ruas do centro da cidade enchem-se de gente olhando para as montras ao passarem pela padaria Sweeney e pelo talho Palka. Os homens usam chapéus, as mulheres vestidos. No edifício do tribunal, ao cimo da rua, o relógio da torre dá as horas...
Abro os olhos e detenho-me. Estou em frente da igreja baptista e, quando olho para a fachada do edifício, sei exatamente quem sou.
Chamo-me Landon Carter e tenho dezessete anos.
Esta é a minha história; prometo não deixar nada de fora.
No início vão sorrir, e depois vão chorar - não digam que não vos avisei.

CAPÍTULO 1


Em 1958, Beaufort, na Carolina do Norte, situada na costa perto de Morehead City, era uma pequena cidade, igual a tantas outras do Sul. Era o gênero de lugar onde a humildade subia tanto no Verão que sair de casa para ir buscar o correio dava-nos logo vontade de tomar uma ducha, e as crianças andavam descalços de Abril até Outubro sob os carvalhos ornados de barbas-de-velho. As pessoas acenavam de dentro dos carros sempre que viam alguém na rua, quer conhecessem ou não, e o ar cheirava a pinheiros, sal e mar, um aroma único das Carolinas. Para muitas daquelas pessoas, pescar no Pamlico Sound ou apanhar caranguejos no rio Nele era um modo de vida, e ao longo de toda a Intercostal Waterway viam-se barcos atracados. A televisão transmitia apenas em três canais, mas a televisão nunca fora importante para os que ali cresceram. As nossas vidas centravam-se, em vez disso, à volta das igrejas, que só dentro dos limites da cidade eram dezoito. Tinham nomes como Igreja Cristã da Assembléia da Amizade, Igreja do Povo Perdoado, Igreja da Expiação de Domingo e depois, claro, havia as igrejas baptistas. Na minha juventude, a Igreja Baptista era de longe a congregação mais popular das redondezas e havia igrejas baptistas praticamente em cada esquina da cidade, cada uma delas considerando-se superior às outras. Havia igrejas baptistas de todas as variedades - Baptistas da Livre Vontade, Baptistas do Sul, Baptistas Congregacionistas, Baptistas Missionários, Baptistas Independentes... bem, já devem ter ficado com uma idéia.
Naquele tempo, o grande acontecimento do ano era promovido pela igreja baptista do centro da cidade - a Sulista - juntamente com a escola secundária local. Todos os anos encenavam uma peça de Natal na Beaufort Playhouse, que na verdade, era uma peça escrita por Hegbert Sullivan, um pastor que pertencia àquela igreja desde que Moisés abriu o mar Vermelho. Está bem, talvez não fosse assim tão velho, mas era tão velho que quase se podia ver através da sua pele. Tinha a pele sempre meio pegajosa e translúcida - as crianças juravam que conseguiam mesmo ver o sangue a correr nas suas veias e o seu cabelo era tão branco como os coelhinhos que se vêem nas lojas de animais por altura da Páscoa.
Pois bem, ele escreveu uma peça chamada O Anjo de Natal, porque não queria continuar a encenar aquele velho clássico de Charles Dickens, Cântico de Natal. Na sua opinião, Scrooge era um pagão que alcançou a sua redenção apenas por ter visto fantasmas, não anjos e, de qualquer maneira, quem poderia garantir que eles tivessem sido enviados por Deus? E se os fantasmas não tinham sido enviados diretamente do céu, quem poderia dizer que Scrooge não iria voltar à sua conduta pecaminosa? A peça não o dizia propriamente no final de certa maneira, falava-se da fé e tudo isso mas Hegbert não confiava em fantasmas se eles não fossem de fato enviados por Deus e tal não era explicado numa linguagem clara. Esse era o grande problema da peça. Alguns anos antes, ele tinha alterado o final, fazendo a sua própria versão, com o velho Scrooge a transformar-se em padre e tudo, partindo para Jerusalém a fim de encontrar o lugar onde Jesus em tempos ensinara os escribas. Não foi muito bem recebida nem sequer pela comunidade de fiéis, sentados na platéia assistindo ao espetáculo com os olhos arregalados e o jornal local disse coisas do gênero: "Embora, sem dúvida, interessante, não é exatamente aquela peça que todos nós aprendemos a conhecer e a amar...".
Hegbert decidiu então tentar escrever a sua própria peça. Tinha escrito sermões a vida inteira, e alguns deles, tínhamos de admitir, eram realmente interessantes, especialmente quando falavam da "ira de Deus caindo sobre os fornicadores" e desse gênero de coisas. É que lhe fazia mesmo o sangue ferver, digo-vos, quando falava dos fornicadores. Essa era a sua verdadeira paixão. Quando éramos mais novos, eu e os meus amigos escondíamo-nos atrás das árvores e
gritávamos "O Hegbert é um fornicador!" quando o víamos descer a rua. Ríamo-nos como idiotas, como se fôssemos as criaturas mais espirituosas que já tinham habitado o planeta.
O velho Hegbert parava de repente, as suas orelhas levantavam-se - juro por Deus, elas mexiam-se mesmo - e o seu rosto ganhava um tom vivo de vermelho, como se tivesse acabado de beber gasolina, e as veias grandes e verdes do pescoço começavam a dilatar-se, como o rio Amazonas naqueles mapas da National Geographic. Olhava de um lado para o outro, os olhos muito cerrados tentando descobrir-nos e, em seguida, de modo igualmente repentino, começava a ficar pálido novamente, voltando àquela pele de peixe, mesmo diante dos nossos olhos. Bem, era digno de ser visto, disso não há dúvida.
Então ficávamos escondidos atrás de uma árvore e Hegbert (mas quem são os pais que dão o nome de Hegbert a um filho?) permanecia ali à espera que nos rendêssemos, como se achasse que éramos assim tão estúpidos. Tapávamos a boca com as mãos para evitar rir alto, mas, de alguma maneira, ele conseguia sempre perceber quem éramos. Ficava a olhar de um lado para o outro e, de repente, parava, os olhos pequenos e brilhantes apontados na nossa direção, atravessando diretamente a árvore. "Sei que és tu, Landon Carter", dizia, "e Deus também o sabe." Deixava que pensássemos nisso durante um minuto ou dois e, por fim, seguia o seu caminho. Durante o sermão desse fim-de-semana, fixava-nos com o olhar e dizia qualquer coisa como "Deus é misericordioso com as crianças, mas as crianças também têm de ser merecedoras da sua misericórdia". E nós encolhíamo-nos nos bancos, não por vergonha, mas para esconder um novo ataque de riso. Hegbert simplesmente não nos compreendia, o que era muito estranho, uma vez que ele até tinha uma criança. Mas era uma menina. Sobre isso, porém, falaremos mais tarde.
Como já disse, houve um ano em que Hegbert escreveu O Anjo de Natal e decidiu encenar essa peça em vez da outra. Na verdade, a peça em si não era má, o que surpreendeu toda a gente no primeiro ano em que foi representada. Era, basicamente, a história de um homem que tinha perdido a mulher há alguns anos. Esse homem, Tom Thornton, era muito religioso, mas teve uma crise de fé depois da mulher ter morrido ao dar à luz. Tom Thornton acaba por cuidar da filha sozinho, mas não é o melhor dos pais. Surge um Natal em que o que a menina quer mesmo é uma caixinha de música especial com um anjo gravado na tampa, que ela vira num velho catálogo e cuja fotografia havia recortado. Durante muito tempo, o homem procura o presente por todo o lado, mas não o consegue encontrar em lugar algum. Chega então a véspera de Natal e ele continua à procura, e enquanto está na rua a olhar para as lojas depara com uma mulher estranha que nunca tinha visto e que promete ajudá-lo a encontrar o presente para a filha. Primeiro, porém, ajudam um sem-abrigo (naquela altura chamávamos-lhes vagabundos), depois passam por um orfanato para visitar algumas crianças, em seguida visitam uma mulher velha e sozinha que queria apenas alguma companhia na véspera do Natal. Nesse ponto da história, a mulher misteriosa pergunta a Tom Thornton o que deseja para o Natal e ele responde-lhe que quer a sua mulher de volta. Ela leva-o ao chafariz da cidade e diz-lhe que olhe para a água, pois ali encontrará aquilo que procura. Quando ele olha para a água, vê o rosto da sua filhinha e desata a chorar ali mesmo. Enquanto isso, a mulher misteriosa desaparece e Tom Thornton procura-a mas não a consegue encontrar. Por fim, dirige-se a casa. As lições que aprendera durante o dia davam-lhe voltas à cabeça. Entra no quarto da filha e a sua figura adormecida fá-lo perceber que ela é tudo o que lhe resta da mulher. Começa a chorar de novo, pois sabe que não tem sido um bom pai. Na manhã seguinte, como por magia, a caixinha de música surge debaixo da árvore de Natal e o anjo gravado na tampa parece exatamente a mulher que ele vira na noite anterior.
Assim, de fato, a peça não era tão má. Para dizer a verdade, as pessoas vertiam rios de lágrimas sempre que a viam. Esgotava todos os anos em que era levada à cena e, devido à sua popularidade, Hegbert acabou por ter de transferi-la da igreja para a Beaufort Playhouse, que tinha muito mais lugares. No meu último ano de escola secundária, faziam-se já dois espetáculos com casas cheias, o que, para aqueles que interpretavam a peça, era já por si um grande acontecimento.
É que Hegbert queria que fossem jovens a representá-la - os alunos do último ano, não o grupo de teatro. Suponho que ele julgava que era uma boa experiência de aprendizagem antes de os alunos seguirem para a universidade e se defrontarem com todos os fornicadores. Ele era esse gênero de pessoa, querendo sempre salvar-nos da tentação. Queria que soubéssemos que Deus estava sempre a vigiar-nos, mesmo quando estávamos longe de casa e que, se confiássemos Nele, tudo acabaria bem. Foi uma lição que, por fim, aprendi, embora não tivesse sido Hegbert a ensiná-la.

Como já disse, Beaufort era bastante típica como cidade do Sul, embora tivesse uma história interessante. O pirata Blackbeard teve ali em tempos uma casa, e diz-se que o seu navio, o Queen Anne's Revenge, se encontra enterrado algures na areia ao largo da costa. Recentemente, uns arqueólogos, ou oceanógrafos, ou quem anda à procura de coisas desse gênero, disseram que o tinham localizado, mas de momento ninguém tem ainda a certeza, uma vez que se afundou há mais de duzentos e cinqüenta anos e não há documentos que possam servir como provas de ser esse barco. Beaufort mudou muito desde os anos 50, embora ainda não seja exatamente uma grande metrópole. Beaufort era, e sempre será, uma comunidade pequena, mas quando eu era ainda criança mal justificava um lugar no mapa. Para melhor se perceber, o distrito que incluía Beaufort abrangia toda a parte oriental do estado - alguns cinqüenta mil quilômetros quadrados - e não tinha uma única cidade com mais de vinte e cinco mil habitantes. Mesmo comparada a essas cidades, Beaufort era considerada pequena. Toda a zona a leste de Raleigh e a norte de Wilmington, até à fronteira com a Virgínia, fazia parte do distrito que o meu pai representava.
Suponho que já tenham ouvido falar dele. Ainda agora ele é uma espécie de lenda. Chamava-se Worth Carter, e foi membro do Congresso durante quase trinta anos. A sua palavra de ordem, ano sim ano não, durante a época das eleições era "Worth Carter representa e a pessoa devia preencher o nome da cidade onde vivesse. Lembro-me que durante as viagens que fazíamos, quando eu e a minha mãe tínhamos de aparecer em público para mostrar às pessoas que ele era um verdadeiro chefe de família, costumávamos ver esses autocolantes preenchidos a stencil com nomes como Otway, Chocawinity e Seven Springs. Hoje em dia, essas coisas já não resultariam, mas naqueles tempos era uma forma de publicidade razoavelmente sofisticada. Imagino que, se ele fizesse isso agora, os seus adversários introduziriam todo o tipo de palavrões no espaço em branco, mas nós nunca vimos isso. Bem, talvez uma vez. Um agricultor de Dupím County escreveu a palavra merda no espaço em branco, e quando a minha mãe a viu, tapou-me os olhos e disse uma prece pedindo perdão para aquele pobre e ignorante patife. Ela não proferiu exatamente essas palavras, mas eu percebi o sentido.
Portanto o meu pai, o Sr. Congressista, era o manda-chuva local, e todos, mas todos, sabiam isso, incluindo o velho Hegbert. Pois bem, os dois não se davam lá muito bem, não se entendiam de todo, apesar de o meu pai visitar a igreja de Hegbert sempre que ia à cidade, o que, para ser franco, não acontecia assim com muita freqüência. Hegbert, para além de pensar que os fornicadores estavam destinados a limpar os urinóis no Inferno, também acreditava que o comunismo era "uma doença que condenava a humanidade ao heregismo". Apesar de heregismo não existir como palavra - não
consigo encontrá-la em dicionário algum - os fiéis sabiam o que ele queria dizer. Sabiam também que dirigia aquelas palavras em particular ao meu pai, sentado de olhos fechados e fingindo não ouvir. O meu pai pertencia a uma das comissões da Câmara dos Representantes que estudava o "perigo vermelho" que, supostamente se estava a infiltrar em todas as esferas do país, incluindo a defesa nacional, o ensino superior e até a cultura do tabaco. Não se esqueçam que isto se passou durante a Guerra Fria; as tensões estavam ao rubro, e nós, os da Carolina do Norte, precisávamos de alguma coisa que trouxesse tudo aquilo para um nível mais quotidiano. O meu pai, de forma coerente, tentava procurar fatos, os quais eram irrelevantes para pessoas como Hegbert.
Depois, quando chegava a casa após a missa, dizia qualquer coisa como "O reverendo Sullivan esteve muito bem hoje. Espero que tenhas prestado atenção àquela parte do Evangelho em que Jesus fala dos pobres...".
- Sim, claro, pai...
O meu pai tentava relativizar as situações sempre que possível. Penso que foi por isso que se manteve no Congresso durante tanto tempo. Ele podia beijar os bebês mais feios à face da terra e ainda inventar algo de simpático para lhes dizer. "Que criança tão amorosa", comentava, quando o bebê tinha uma cabeça gigantesca, ou "Aposto que é a menina mais querida deste mundo", se a bebê tivesse uma marca de nascença que lhe cobria o rosto inteiro. Uma vez apareceu uma mulher com uma criança numa cadeira de rodas. O meu pai olhou para ele e disse: "Aposto dez contra um em como és o melhor aluno da tua turma." E era! Pois é, o meu pai era o máximo neste gênero de coisas. Estava à altura dos melhores, disso não há dúvida. E não era assim tão mau, na verdade, especialmente levando em conta que não me batia, nem nada disso.
Mas não esteve presente durante a minha infância. Detesto dizer isto, porque hoje em dia as pessoas falam muito dessas coisas, mesmo quando os pais estiveram de fato presentes, e usam-nas como desculpa para o seu comportamento. O meu pai... não me amava... foi por isso que me tornei numa stripper e apareci no Jerry Springer Show... Não estou a usar isto para desculpar a pessoa em que me tornei, estou apenas a constatá-lo como um fato. O meu pai estava ausente nove meses durante o ano, vivendo num apartamento em Washington, D.C., a quase quinhentos quilômetros de distância. A minha mãe não ia com ele, porque ambos queriam que eu crescesse "da mesma maneira que eles tinham crescido".
Claro, o pai do meu pai levava-o a caçar e a pescar, ensinou-o a jogar à bola, aparecia nas festas de aniversário, aquelas pequenas coisas que, todas juntas, são muito importantes antes de nos tornarmos adultos. O meu pai, pelo contrário, era um estranho, alguém que eu mal conhecia. Durante os primeiros cinco anos de vida pensei que todos os pais vivessem fora de casa num outro lugar qualquer. Foi só quando o meu melhor amigo, o Eric Hunter, me perguntou no jardim de infância quem era aquele homem que aparecera em minha casa na noite anterior que percebi que havia algo de errado naquela situação.
- É o meu pai - respondi, orgulhoso.
- Ah - disse Eric, vasculhando na minha lancheira, à procura do meu Milky Way. - Não sabia que tinhas pai.
Foi como se me tivessem dado um estalo na cara.
De maneira que cresci sob os cuidados da minha mãe, uma senhora simpática, meiga e gentil, o gênero de mãe com quem a maioria das pessoas sonha. Mas ela não foi, nem podia ter sido, uma influência masculina na minha vida e, esse fato, juntamente com a desilusão crescente em relação ao meu pai, fez com que me tornasse meio rebelde, mesmo quando era ainda muito novo. Não um rebelde dos maus, atenção. Eu e os meus amigos podíamos sair às escondidas de casa à noite e ensaboar os vidros de automóveis de vez em quando, ou comer amendoins cozidos no cemitério por trás da igreja, mas nos anos cinqüenta eram coisas que levavam os pais a abanar a cabeça e a sussurrar para os filhos: "Não queiram ser como o filho dos Carter. Não tarda nada, vai parar à prisão."
Eu. Um mau rapaz. Por comer amendoins no cemitério, imaginem.
Bem, adiante, o meu pai e Hegbert não se davam bem, mas não era só por causa da política. Não, parece que o meu pai e Hegbert se conheciam há já muito tempo. Hegbert era cerca de vinte anos mais velho do que o meu pai e, em tempos, antes de ser pastor, costumava trabalhar para o pai do meu pai. O meu avô apesar de ter passado muito tempo com o meu pai era, sem dúvida, um verdadeiro filho-da-mãe. A propósito, foi ele quem fez a fortuna da família, mas não quero que o imaginem como um homem diligente que se matava a trabalhar, assistindo tranquilamente ao crescimento do seu negócio, enriquecendo aos poucos com o tempo. O meu avô era muito mais esperto do que isso. O modo como ganhou o seu dinheiro foi simples - começou como contrabandista de bebidas alcoólicas, acumulando riqueza durante o período da Lei Seca, trazendo rum de Cuba. Depois, começou a comprar terras e a contratar rendeiros para trabalharem nelas. Ficava com noventa por cento do que os rendeiros faziam com a colheita do tabaco, depois lhes emprestava dinheiro sempre que eles precisavam, com taxas de juro absurdas. Claro, nunca fazia tensão de receber o dinheiro, em vez disso, impedia-os de liquidarem as hipotecas acabando por ficar com qualquer pedaço de terra ou equipamento que lhes pertencesse. Depois, no que ele chamava o seu "momento de inspiração", fundou um banco chamado Carter Banking and Loan. O único banco que existia num raio de dois conselhos tinha ardido misteriosamente e,
com o começo da Depressão, nunca mais reabriu. Embora toda a gente soubesse o que realmente acontecera, jamais alguém disse uma palavra com medo de represálias, e esse medo tinha razão de ser. O banco não fora o único edifício a incendiar-se misteriosamente.
As taxas de juro eram ultrajantes e, aos poucos, ele começou a apropriar-se de mais terras e bens à medida que as pessoas não conseguiam liquidar os seus empréstimos. Quando a Depressão atingiu o auge, apoderou-se de dezenas de negócios por todo o conselho, conservando ao mesmo tempo os proprietários originais como assalariados, pagando-lhes apenas o suficiente para mantê-los onde estavam, pois não tinham para onde ir. Dizia-lhes que quando a economia melhorasse, voltaria a vender-lhes os negócios, e as pessoas acreditavam sempre nele.
Nem uma única vez, porém, cumpriu a sua promessa. No fim, acabou por ficar com o controlo de uma grande parte da economia do conselho, e abusou do seu poder de todas as maneiras imagináveis.
Gostaria de vos poder contar que ele acabou por ter uma morte horrível, mas não foi o caso. Morreu numa idade bem avançada, enquanto dormia com a amante no seu iate ao largo das Ilhas Caimão. Sobrevivera a ambas as mulheres e ao único filho. Que fim para uma pessoa como ele! A vida, aprendi, nunca é justa. Se se ensinasse alguma coisa nas escolas, deveria ser isso.
Mas voltemos à história... Hegbert, quando viu que grande sacana era, na verdade, o meu avô, deixou de trabalhar para ele e ingressou no sacerdócio. Mais tarde, voltou para Beaufort e começou a ministrar na mesma igreja que nós freqüentávamos. Passou os primeiros anos a aperfeiçoar o seu número de fogo e castigo celestial com sermões mensais sobre os malefícios das pessoas avarentas, e isso deixava-lhe muito pouco tempo para qualquer outra coisa. Tinha já quarenta e três anos quando finalmente se casou; e cinqüenta e cinco quando a filha, Jamie Sullivan, nasceu. A mulher, pequenina e magra, vinte anos mais nova do que ele, teve seis abortos espontâneos antes da Jamie nascer e, no fim, morreu ao dar à luz, deixando Hegbert viúvo e com uma filha para criar sozinho.
Daí, claro, a história por detrás da peça de teatro.
As pessoas já sabiam disso, mesmo antes de a peça ser levada à cena. Era uma daquelas histórias que se ouviam sempre que Hegbert tinha de batizar um bebê ou assistir a um funeral. Todos a conheciam, e é por isso, penso eu, que tantas pessoas se emocionavam sempre que assistiam à representação de Natal. Reconheciam-na como algo baseado na vida real, o que lhe dava um significado especial.
Jamie Sullivan andava no último ano da escola secundária, como eu, e já tinha sido escolhida para interpretar o anjo. Não que mais alguém alguma vez tivesse essa hipótese. Esse fato, claro, tornava a peça particularmente especial naquele ano. Ia ser um grande acontecimento, talvez o maior acontecimento de todos os tempos
pelo menos, na cabeça de Miss Garber. Ela era a professora de teatro, e já se mostrava entusiasmadíssima com as possibilidades da peça na primeira vez que a vi nas aulas.
Pois bem, eu realmente não planeara fazer teatro naquele ano. A sério que não, mas ou escolhia isso ou Química II. A verdade é que pensava que iria ser uma disciplina "fácil", especialmente quando comparada com a minha outra opção. Nada de papéis, ou testes, nem quadros onde teria de memorizar protons e neutrons e combinar elementos nas suas fórmulas adequadas... O que poderia ser melhor para um aluno no último ano? Parecia ser a escolha acertada, e quando me inscrevi em teatro, pensei que iria poder dormir em quase todas as aulas, o que era bastante importante na altura, tendo em conta os meus hábitos de comedor de amendoins às tantas da noite.
No primeiro dia de aulas fui dos últimos a chegar, entrando segundos antes de a campainha tocar, e escolhi um lugar nas últimas filas. Miss Garber estava de costas para a classe, ocupada a escrever o seu nome em letras grandes e cursivas no quadro, como se não soubéssemos como ela se chamava. Toda a gente a conhecia - era impossível não a conhecer. Era alta, media pelo menos dois metros, com cabelo ruivo flamejante e uma pele pálida que, aos quarenta e tal anos, ainda exibia sardas. Tinha também excesso de peso - diria honestamente que chegava aos cento e quinze quilos - e uma tendência para usar longos e floridos vestidos havaianos. Usava óculos com armações de tartaruga, e cumprimentava toda a gente com "Oláááaaa"'", a última sílaba meio cantada. Miss Garber era única, disso não há dúvida, e era solteira, o que tornava as coisas ainda piores. Um homem, não importa a idade, não podia deixar de sentir pena de uma mulher como ela.
Por baixo do seu nome, escreveu os objetivos que pretendia alcançar naquele ano. A "autoconfiança" vinha em primeiro lugar, seguida da "autoconsciência" e, em terceiro, a "realização pessoal". Miss Garber tinha a mania deste tipo de expressões, nisso antecipando a psicoterapia, embora na altura não se apercebesse provavelmente disso. Miss Garber foi pioneira nesse campo. Talvez tivesse algo a ver com a sua aparência física; talvez só procurasse sentir-se melhor consigo própria.
Mas estou apenas a divagar.
Foi só depois de a aula ter começado que reparei numa coisa estranha. Embora a Escola Secundária de Beaufort não fosse grande, tinha a certeza absoluta de que era freqüentada por igual número de rapazes e de garotas, sendo essa a razão por que fiquei surpreendido ao reparar que aquela turma tinha uma percentagem feminina de pelo menos noventa por cento. Havia apenas um outro rapaz na sala, o que na minha opinião era bom e, por um instante, senti-me entusiasmado com aquele gênero de sensação "atenção pessoal, aqui vou eu". Mulheres, mulheres, mulheres... não podia deixar de pensar nisso. Mulheres e mais mulheres e nada de testes à vista.
Pronto, sei que não era o rapaz mais perspicaz do bairro.
Então Miss Garber traz à baila a peça de Natal e diz-nos que Jamie Sullivan vai ser o anjo naquele ano. Miss Garber pôs-se logo a bater palmas - pertencia à igreja, também - e muita gente pensava que ela tinha um fraquinho por Hegbert. Quando ouvi falar disso pela primeira vez, lembro-me de ter pensado que era bom eles serem demasiado velhos para poderem ter filhos, se alguma vez se viessem a juntar. Imaginem - translúcidos com sardas! Só a idéia arrepiava toda a gente, mas claro, nunca ninguém falava do assunto, pelo menos ao alcance dos ouvidos de Miss Garber e Hegbert. Mexericos é uma coisa, mexericos ofensivos é outra completamente diferente e, mesmo na escola secundária, não éramos assim tão maus.
Miss Garber continuou a bater palmas sozinha até todos finalmente nos juntarmos a ela, pois era, evidentemente, isso que ela queria. "Levante-se, Jamie", disse. Então Jamie levantou-se e voltou-se para nós. Miss Garber começou a bater palmas com mais força ainda, como se estivesse na presença de uma verdadeira estrela de cinema.
Pois bem, Jamie Sullivan era boa garota. Era mesmo. Beaufort era tão pequena que havia apenas uma escola primária. Daí que tivéssemos pertencido às mesmas turmas a vida inteira e mentiria se dissesse que nunca tinha falado com ela. No segundo ano, Jamie ficara no lugar ao meu lado, e até tivemos algumas conversas, mas isso não queria dizer que passasse muito tempo com ela nos meus tempos livres, mesmo naquela altura. Com quem eu me dava na escola era uma coisa; com quem estava depois da escola era outra completamente diferente, e Jamie nunca constara da minha agenda social.
Não que fosse feia, não me entendam mal. Não era horrorosa, nem nada disso. Felizmente, saíra à mãe, que segundo as fotografias que tinha visto não era nada má, especialmente tendo em conta aquele com quem acabara por casar. Mas Jamie também não era exatamente o que eu considerava atraente. Apesar de magra, com cabelo louro de mel e meigos olhos azuis, a maior parte do tempo parecia algo... sem graça, e isso só quando se chegava a reparar nela. Jamie não se preocupava muito com as aparências exteriores, pois estava sempre à procura de coisas como "beleza interior", e suponho que, em parte, seria essa a razão por que tinha aquele aspecto. Desde que a conhecia e isso é recuar bastante no tempo, - lembrem-se - usou sempre o cabelo num carrapito bem apertado, quase como uma solteirona, sem uma pinta de maquiagem no rosto. Juntando a isso, com os seus habituais casaco de lá castanho e saia de xadrez, tinha sempre o aspecto de estar a caminho de uma entrevista para um emprego na biblioteca. Nós achávamos que era só uma fase e que, por fim, lhe passaria, mas isso nunca aconteceu. Mesmo durante os nossos primeiros três anos de escola secundária ela nada mudou. A única coisa que mudou foi o tamanho das suas roupas.
Mas não era apenas a aparência de Jamie que a tornava diferente; era também o modo como se comportava. Jamie não passava o tempo no Cecil's Diner ou em festas em casa das outras meninas, e estou certo de que nunca havia tido um namorado na vida.
O velho Hegbert, provavelmente, teria um ataque de coração se isso acontecesse. Mas mesmo que, por alguma estranha razão, Hegbert o permitisse, ainda assim isso não teria feito qualquer diferença. Jamie levava a Bíblia para todo o lado e, se a sua aparência e Hegbert não afastavam os rapazes, a Bíblia podem ter a certeza que sim. Ora bem, eu gostava tanto da Bíblia como qualquer outro rapaz, mas Jamie parecia gostar dela de um modo que me era completamente estranho. Não só ia todos os meses de Agosto para o campo de férias da igreja, como lia também a Bíblia durante o intervalo do almoço na escola. Para a minha cabeça, isso simplesmente não era normal, mesmo sendo ela a filha do pastor. Por mais voltas que se dê ao assunto, ler a carta de São Paulo aos Efésios não era nem de perto tão divertido como namoricar.
Mas não ficava por aí. Por causa de toda a sua leitura da Bíblia, ou talvez devido à influência de Hegbert, Jamie acreditava que era importante ajudar os outros; e ajudar os outros era precisamente o que ela fazia. Eu sabia que ela trabalhava como voluntária no orfanato de Morehead City, mas isso ainda não lhe era suficiente. Estava à frente de toda e mais alguma campanha de recolha de fundos, ajudando toda a gente, desde os Escoteiros às Princesas Índias. Soube que, quando ela tinha catorze anos, passou parte do Verão a pintar o exterior da casa de um vizinho idoso. Era o gênero de menina para arrancar as ervas daninhas do jardim de alguém sem que lhe pedissem ou para interromper o trânsito para ajudar as criancinhas a atravessar a rua. Poupava na sua mesada para comprar uma nova bola de basquete para os órfãos, ou dava meia volta e deitava o dinheiro no cesto da igreja aos domingos. Era, por outras palavras, o tipo de mulher que nos fazia parecer maus, e sempre que ela olhava para mim, não podia deixar de me sentir culpado, mesmo que não tivesse feito nada de errado.
Jamie também não circunscrevia as suas boas ações às pessoas. Sempre que se cruzava com um animal ferido, por exemplo, tentava ajudá-lo. Sarigueias, esquilos, cães, gatos, rãs... pouco lhe importava. O Dr. Rawlings, o veterinário, conhecia-a de vista, e abanava a cabeça sempre que a via aproximar-se da sua porta trazendo uma caixa de cartão com mais uma criatura lá dentro. Tirava os óculos e limpava-os com o lenço enquanto Jamie explicava como tinha encontrado a pobre criatura e o que lhe tinha acontecido. "Foi atropelado por um carro, Dr. Rawlings. Penso que estava nos desígnios de Deus eu tê-lo encontrado e tentar salvá-lo. Vai ajudar-me, não vai?"
Para Jamie, tudo estava nos desígnios de Deus. Havia outra coisa. Sempre que alguém falava com ela, qualquer que fosse o assunto, mencionava sempre os desígnios de Deus. O jogo de basebol foi adiado por causa da chuva? Deve ser desígnio de Deus para evitar que algo de mais grave aconteça. Um teste surpresa de trigonometria a que todos na turma chumbaram? Deve estar no desígnio de Deus para nos proporcionar desafios. Bem, já devem ter ficado com uma idéia.
Depois, claro, havia toda a grande questão de Hegbert, e isso em nada a ajudava. Ser a filha do pastor não podia ter sido fácil, mas ela fazia com que isso parecesse a coisa mais natural do mundo e uma sorte ter sido abençoada daquela maneira. Era também assim que costumava dizer. "Fui tão abençoada por ter um pai como o meu." Sempre que dizia isso, tudo o que podíamos fazer era abanar a cabeça e interrogar-nos de que planeta é que ela, efetivamente, tinha vindo.
No entanto, apesar de todas essas características, aquilo que realmente me enfurecia nela era o fato de estar sempre tão irritantemente alegre, independentemente daquilo que estivesse a acontecer à sua volta. Juro, aquela menina nunca disse uma coisa má de nada nem ninguém, mesmo daqueles de nós que não eram muito simpáticos para ela. Passeava pelas ruas a cantarolar, acenava a estranhos que passassem de carro. Por vezes, algumas senhoras, quando a viam passar, saíam a correr das suas casas para lhe oferecerem pão de abóbora que tinham feito durante o dia ou limonada se o calor apertava. Parecia que todos os adultos da cidade a adoravam. "É uma menina tão simpática", diziam sempre que viesse à conversa o nome de Jamie. "O mundo seria um lugar melhor se houvesse mais pessoas como ela."
Mas eu e os meus amigos não víamos as coisas propriamente da mesma maneira. Na nossa opinião, uma Jamie Sullivan já era de mais.
Pensei nisto tudo quando Jamie se colocou diante de nós no primeiro dia da aula de teatro e admito que não estava muito interessado em vê-la. Mas estranhamente, quando Jamie se voltou para nos olhar senti uma espécie de choque, como se estivesse sentado em cima de um arame lasso ou coisa parecida. Ela vestia uma saia de xadrez e uma blusa branca debaixo do mesmo casaco de lã castanho que eu já vira um milhão de vezes, mas havia duas novas saliências no peito que a camisola não conseguia esconder e que eu jurava não estarem lá há apenas três meses atrás. Jamie nunca usara maquiagem e ainda não o fazia, mas estava bronzeada, provavelmente por causa do campo de férias e, pela primeira vez, parecia bem, quase bonita. Claro, pus logo de parte esse pensamento, mas quando olhou em volta da sala, ela parou e sorriu para mim, obviamente contente por ver que eu fazia parte da turma. Só mais tarde é que eu viria a descobrir a verdadeira razão desse sorriso.

CAPÍTULO 2


Depois da escola secundária, planeava ir para a Universidade da Carolina do Norte em Chapel HilI. O meu pai queria que eu fosse para Harvard ou Princeton, como os filhos de outros congressistas, mas com as minhas notas isso era impossível. Não que eu fosse um mau aluno. Simplesmente, não me concentrava nos estudos e as minhas notas não estavam bem à altura daquelas instituições de elite. Quando cheguei ao último ano de escola secundária era ainda bastante incerto se iria sequer ser aceite na UNC. No entanto, tratava-se da universidade onde estudara o meu pai, um lugar onde ele podia mexer alguns cordelinhos. Durante um dos seus poucos fins-de-semana em casa, o meu pai surgiu com um plano que me daria hipóteses de ser admitido. A primeira semana de aulas tinha chegado ao fim, e encontrávamo-nos à mesa a jantar. Ele ia ficar em casa durante três dias por ser o fim-de-semana do Dia do Trabalhador.
- Penso que devias candidatar-te a presidente da associação de estudantes - disse ele. - Vais acabar a escola em Junho, e penso que ficaria bem no teu currículo. A propósito, a tua mãe é da mesma opinião.
A minha mãe acenou afirmativamente com a cabeça enquanto mastigava uma garfada de ervilhas. Não falava muito quando o meu pai tinha a palavra, mas piscava-me o olho de vez em quando. às vezes, penso que a minha mãe gostava de me ver encolher de medo perante o meu pai, apesar de ser amorosa.
- Acho que não teria qualquer hipótese de ganhar - disse eu. Embora fosse, provavelmente, o rapaz mais rico da escola, não era de maneira alguma o mais popular. Essa honra pertencia a Eric Hunter, o meu melhor amigo. Ele conseguia atirar uma bola de basebol a quase cento e cinqüenta quilômetros por hora e conduzira a equipa de futebol a títulos estaduais consecutivos como o seu quarter-back favorito. Era um garanhão. Até o seu nome tinha um som impecável.
- Claro que podes ganhar - retorquiu o meu pai rapidamente. - Nós, os Carter, ganham sempre.
Essa era outra das razões pelas quais não gostava de passar muito tempo com o meu pai. Durante as poucas vezes em que estava em casa, penso que o que ele queria era moldar-me numa pequena versão de si mesmo. Como fui criado a maior parte do tempo longe dele, comecei a ficar irritado com a sua presença. Aquela era a primeira conversa que tínhamos há várias semanas. Raramente falava comigo ao telefone.
-Mas, e se eu não quiser?
O meu pai pousou o garfo, com um bocado de costeleta de porco ainda na ponta. Fitou-me com um ar zangado, examinando-me de cima a baixo. Vestia um fato, apesar de estarem quase trinta graus dentro de casa, e isso tornava-o ainda mais intimidante. A propósito, o meu pai andava sempre de fato.
- Eu penso - disse ele devagar - que seria uma boa idéia.
Eu sabia que quando ele falava daquela maneira o assunto estava resolvido. Era assim que as coisas funcionavam na minha família. A palavra do meu pai era lei. Mas a verdade era que mesmo depois de concordar, eu continuava a não querer fazê-lo. Não queria perder a minha tarde a encontrar-me com professores depois das aulas! Todas as semanas durante o resto do ano, a tentar inventar temas para os bailes da escola ou a decidir de que cor seriam as serpentinas. Na verdade, era só isso que os presidentes da associação faziam, pelo menos no tempo em que eu andava na escola. Os estudantes não tinham qualquer poder para, de fato, tomarem decisões sobre alguma coisa importante.
Mas mais uma vez sabia que o meu pai tinha uma certa razão. Se eu quisesse ir para a UNC, tinha de fazer alguma coisa. Não jogava futebol, nem basquetebol, não tocava qualquer instrumento, não pertencia ao clube de xadrez ou ao clube de boliche ou a qualquer outro. Não era brilhante na sala de aulas, raio, não era brilhante em quase nada! Começando a ficar desanimado, fiz uma lista do que sabia realmente fazer mas, para ser franco, não havia muita coisa. Podia fazer oito diferentes tipos de nós de vela, podia andar descalço no asfalto quente mais tempo do que qualquer pessoa que conhecia, podia equilibrar um lápis verticalmente sobre o dedo durante trinta segundos... Mas não achava que qualquer dessas coisas pudesse realmente impressionar na candidatura a uma universidade. Então fiquei ali, deitado na cama a noite inteira, chegando lentamente à decepcionante conclusão de que era um falhado. Obrigado pai.
Na manhã seguinte, fui ao escritório do diretor e acrescentei o meu nome à lista de candidatos. Havia dois outros concorrentes - John Foteman e Maggie Brown. Ora bem, John não tinha qualquer hipótese, disso tive logo a certeza. Era daqueles rapazes que tirava fios das nossas roupas enquanto falava conosco. Mas era bom aluno. Sentava-se na fila da frente e levantava a mão sempre que o professor fazia uma pergunta. Se fosse chamado a responder, dava quase sempre a resposta certa e virava a cabeça de um lado para o outro com um ar convencido no rosto, como que a provar a superioridade da sua inteligência quando comparada à dos outros plebeus na sala. Eric e eu costumávamos atirar-lhe bolinhas de papel mastigado quando o professor virava as costas.
Maggie Brown era outra história. Também era boa aluna. Fizera parte do conselho de estudantes durante os primeiros três anos e tinha sido vice-presidente da associação no ano anterior. O seu único verdadeiro contra era não ser muito atraente, e tinha engordado quase dez quilos naquele Verão. Eu sabia que nem um único rapaz votaria nela.
Depois de estudar a concorrência, percebi que, afinal, poderia ter uma hipótese. Todo o meu futuro estava em
jogo, por isso formulei a minha estratégia. Eric foi o primeiro a concordar.
- Claro, vou fazer com que todos na equipa votem em ti, não há problema. Se é isso mesmo que queres.
- E que tal as namoradas deles também? - perguntei.
Toda a minha campanha se resumiu basicamente a isso. Claro, fui aos debates a que devia ir e distribui aqueles estúpidos panfletos "O que farei se for eleito presidente", mas, na verdade, foi Eric Hunter quem me colocou onde era preciso chegar. A Escola Secundária de Beaufort tinha apenas quatrocentos alunos, pelo que conseguir os votos dos atletas era essencial, e a maior parte deles pouco se importava em quem votava. No fim, acabou tudo por correr tal como eu planeara.
Fui eleito presidente da associação de estudantes com uma maioria bastante significativa de votos. Não fazia qualquer idéia dos problemas a que isso me iria conduzir.

No penúltimo ano da escola secundária tive uma namorada chamada Angela Clark. Foi a minha primeira namorada a sério, apesar de o namoro ter durado apenas alguns meses. Mesmo antes de a escola fechar para as férias do Verão, trocou-me por um rapaz chamado Lew que tinha vinte anos e trabalhava como mecânico na oficina do pai. O seu principal atributo, tanto quanto pude perceber, era um grande e belo carro. Usava sempre uma T-shirt branca com um maço de Camels enfiado na manga e encostava-se ao capô do seu Thunderbird olhando de um lado para o outro a dizer coisas como "Olá, borracho" sempre que passava uma mulher. Era um verdadeiro campeão, se percebem o que quero dizer.
Bem, o baile de regresso às aulas aproximava-se e, por causa dessa história da Angela, ainda não tinha arranjado um par. Todos os membros do conselho de estudantes tinham de ir era obrigatório. Tinha de ajudar a decorar o ginásio e a limpá-lo no dia seguinte e, além disso, normalmente divertíamo-nos sempre bastante. Telefonei a duas meninas que conhecia, mas já tinham parceiro. Então telefonei a mais algumas. Também já estavam comprometidas. Na última semana antes do baile, as escolhas já eram poucas. Restavam-me aquelas meninas que usavam óculos de lentes grossas e que falavam com a língua presa. De qualquer maneira, Beaufort nunca fora um ninho de beldades, mas, ainda assim, tinha de encontrar alguém. Não queria ir ao baile sem par
o que é que isso iria parecer? Seria o único presidente da associação de estudantes na história a ir sozinho ao baile de regresso às aulas. Acabaria por ficar a servir o ponche a noite inteira ou a limpar o vomitado nas casas de banho. Era isso o que as pessoas sem parceiros normalmente faziam.
Quase a entrar em pânico, fui buscar o anuário escolar do ano anterior e comecei a folhear as páginas uma a uma à procura de alguém que talvez pudesse não ter parceiro. Primeiro examinei as páginas com as alunas do último ano. Embora muitas delas tivessem ido para a universidade, algumas ainda permaneciam na cidade. Apesar de achar que não tinha grandes hipóteses, telefonei-lhes e, claro, isso se comprovou. Não consegui encontrar ninguém, pelo menos ninguém que quisesse ir comigo. Já começava a ser bastante bom a lidar com tampas, digo-vos, apesar de isso não ser o gênero de coisa de que nos possamos gabar junto dos netos. A minha mãe sabia o que se estava a passar e, por fim, veio ao meu quarto, sentando-se na cama a meu lado.
- Se não conseguires arranjar par, terei muito prazer em ir contigo - disse.
- Obrigado, mãe - respondi, abatido.
Quando ela saiu do quarto, senti-me ainda pior do que antes. Até a minha mãe pensava que eu não iria conseguir encontrar alguém. E se aparecesse no baile com ela? Não, nem que vivesse cem anos, nunca iria ultrapassar isso.
A propósito, havia outro rapaz no mesmo barco. Carey Dennison tinha sido eleito tesoureiro e também ainda não tinha par. Carey era daqueles rapazes com quem ninguém queria estar, e a única razão por que tinha sido eleito fora porque concorrera sozinho. Mesmo assim, penso que ganhou por muito poucos votos. Tocava trombeta na banda da escola, e o seu corpo parecia completamente desproporcionado, como se tivesse parado de crescer a meio da puberdade. Tinha uma barriga enorme e braços e pernas desengonçados, como os Hoos em Hooville. Também tinha uma maneira de falar esganiçada - era o que fazia dele um tocador de trombeta tão bom, suponho - e estava sempre a fazer perguntas. "Onde é que foste no fim-de-semana passado? Foi divertido? Conheceste alguma menina?" Nem sequer esperava pela resposta, movendo-se constantemente de um lado para o outro enquanto fazia as perguntas, de modo que tínhamos de estar sempre a girar a cabeça para o manter à vista. Juro que deve ter sido a pessoa mais chata que alguma vez conheci. Se eu não arranjasse uma parceira, ele ia ficar ao meu lado a noite inteira, bombardeando-me com perguntas como um promotor de justiça transtornado.
Portanto, ali estava eu, folheando as páginas na secção dos alunos do penúltimo ano, quando vi a fotografia de Jamie Sullivan. Detive-me durante apenas um segundo, depois virei a página, amaldiçoando-me por ter sequer pensado naquela hipótese. Passei a hora seguinte à procura de alguém de aspecto minimamente decente, mas, lentamente, cheguei à conclusão de que já não restava mais ninguém. Por fim, voltei à fotografia dela e olhei-a de novo. Não era feia, disse para comigo, e realmente é muito simpática. Provavelmente, diria que sim, pensei...
Fechei o anuário. Jamie Sullivan? A filha de Hegbert? Nem pensar. De maneira nenhuma. Os meus amigos iriam esfolar-me vivo.
Mas se comparássemos isso a ter de levar a minha mãe ou limpar o vomitado ou até, Deus me livre... Carey Dennison?
Passei o resto da tarde debatendo os prós e os contras do meu dilema. Acreditem, vacilei durante algum tempo, mas, no fim, a escolha era evidente, até para mim. Tinha de pedir a Jamie para ir ao baile comigo, e dei voltas ao quarto a pensar na melhor maneira de o fazer.
Foi então que me apercebi de algo terrível, algo absolutamente assustador. Carey Dennison, pensei de repente, estava talvez a fazer exatamente o mesmo que eu naquele preciso momento. Se calhar, estava também a folhear o anuário! Ele era esquisito, mas também não era o tipo de rapaz que gostasse de limpar vomitado, e se conhecessem a mãe dele, saberiam que essa escolha era ainda pior do que a minha. E se ele pedisse a Jamie primeiro? Jamie seria incapaz de lhe dizer que não e, de fato, era a única opção que ele tinha. Ninguém, a não ser ela, aceitaria ser vista com ele. Jamie ajudava toda a gente - era uma daquelas santas da igualdade de oportunidades. Provavelmente, escutaria a voz esganiçada, detectaria a bondade irradiando do coração dele e aceitaria de uma assentada.
Assim, estava eu sentado no meu quarto, aflito com a possibilidade de Jamie não ir ao baile comigo. Mal dormi naquela noite, digo-vos, o que foi quase a coisa mais estranha por que já tinha passado. Não penso que alguém alguma vez tenha ficado tão ansioso por convidar Jamie para sair. Era a primeira coisa que tencionava fazer logo de manhã, enquanto ainda tivesse coragem, mas Jamie não estava na escola. Presumi que estivesse a trabalhar com os órfãos em Morehead City, como fazia todos os meses. Alguns de nós tínhamos tentado sair da escola usando também essa desculpa, mas Jamie era a única que conseguia ser convincente. O diretor sabia que ela estava a ler para os órfãos, ou a fazer trabalhos manuais, ou simplesmente a fazer jogos com eles. Não iria escapulir-se para a praia, ou para o Cecil's Diner, ou coisa do gênero. A idéia era completamente ridícula.
- Já tens par? - perguntou-me Eric num intervalo entre as aulas. Ele sabia muito bem que não, mas mesmo sendo o meu melhor amigo, gostava de me provocar de vez em quando.
- Ainda não - respondi - mas estou a tratar disso.
Ao fundo do corredor, Carey Dennison estava a abrir o seu cacifo. Juro que me lançou um olhar frio quando pensou que eu não estava a olhar para ele.
Foi assim esse dia.
Os minutos passaram lentamente durante a última aula. Do modo como via as coisas se eu e Carey saíssemos ao mesmo tempo, eu conseguiria chegar a casa dela primeiro, tendo em conta as pernas desengonçadas dele. Comecei a preparar-me mentalmente e quando a campainha tocou saí da escola a correr a toda a velocidade. Voei durante cerca de cem metros, depois comecei a ficar meio cansado e, em seguida, tive uma cãibra. Pouco depois, só conseguia andar, mas a cãibra começou mesmo a magoar-me e tive de me dobrar e segurar
o flanco da perna enquanto andava. Ao caminhar pelas ruas de Beaufort parecia uma versão asmática do Corcunda de Notre Dame.
Atrás de mim pensei ouvir o riso estridente de Carey. Olhei para trás, segurando a barriga com força para abafar a dor, mas não o vi. Talvez estivesse a fazer corta-mato através do quintal de alguém'. Era um filho da mãe manhoso, aquele. Não se podia confiar nele nem um minuto.
Comecei a cambalear ainda mais depressa e pouco tempo depois chegava à rua de Jamie. Nessa altura já estava todo transpirado - a camisa completamente encharcada e ainda respirava com dificuldade. Alcancei a porta da frente da casa, esperei um segundo para recuperar o fôlego e finalmente bati. Apesar da corrida febril até à casa dela, o meu lado pessimista dizia-me que seria Carey a abrir a porta. Imaginei-o a sorrir para mim com uma expressão vitoriosa, uma expressão que quereria essencialmente dizer "Desculpa lá, amigo, tarde de mais".
Mas não foi Carey quem abriu a porta, foi Jamie, e, pela primeira vez na vida, vi qual seria a sua aparência se ela fosse uma pessoa normal. Vestia calças de ganga e uma blusa vermelha, e embora o cabelo estivesse ainda apanhado, parecia mais informal do que era costume. Percebi que até podia ser gira se desse a si própria essa oportunidade.
- Landon - disse ao abrir a porta - que surpresa! - Jamie ficava sempre contente por ver alguém, eu inclusive, apesar de me ter parecido que o meu aspecto a sobressaltara um pouco. - Parece que estiveste a correr.
- Não propriamente - menti, limpando a testa. Felizmente, a cãibra estava a melhorar depressa.
- Tens a camisa toda transpirada.
- Ah, isso? - Olhei para a camisa. - Isso não é nada. É que às vezes transpiro muito.
- Se calhar, devias ir ao médico para ver o que é.
- Estou bem, tenho a certeza.
- De qualquer maneira, vou rezar por ti - ofereceu-se, sorrindo.
Jamie estava sempre a rezar por alguém. Já agora, juntava-me ao clube.
- Obrigado - disse eu.
Ela baixou o olhar e arrastou os pés por um momento.
- Bem, convidava-te a entrar, mas o meu pai não está e não autoriza que os rapazes entrem em nossa casa quando ele não está.
- Oh - disse eu, de um modo abatido - não faz mal. Podemos falar aqui, suponho. - Se tivesse escolha, teria preferido lá dentro.
- Queres uma limonada enquanto falamos? - perguntou. - Acabei de a fazer.
- Quero, sim - respondi.
- Volto já. - Entrou em casa, mas deixou a porta aberta, o que me permitiu dar uma espreitadela rápida à sala. A casa, notei, era pequena mas arrumada, com um piano encostado a uma parede e um sofá junto à outra. Uma pequena ventoinha oscilava a um dos cantos. Sobre a mesa de café estavam livros com títulos como Escutando Jesus e A Fé é a Resposta. A Bíblia de Jamie também lá estava, aberta no Evangelho de São Lucas.
Pouco depois,Jamie voltou com a limonada e sentámo-nos em duas cadeiras a um canto da varanda. Ela e o pai sentavam-se ali ao fim da tarde, eu sabia disso, pois passava pela casa deles de vez em quando. Mal nos sentamos, reparei em Mrs. Hastings, avizinha do outro lado da rua, a fazer-nos adeus. Jamie acenou também enquanto eu dava um jeito à cadeira para que Mrs. Hastings não pudesse ver a minha cara. Embora fosse pedir a Jamie para ir ao baile comigo, não queria que ninguém
nem mesmo Mrs. Hastings me visse ali no caso de ela já ter aceitado o pedido de Carey. Uma coisa era ir, de fato, com Jamie ao baile, outra era ser rejeitado por ela a favor de uma pessoa como Carey.
- Que estás a fazer? - perguntou-me Jamie. - Estás a pôr a cadeira ao sol.
- Gosto do sol - disse eu. Contudo, ela tinha razão. Quase imediatamente pude sentir os raios solares a queimar-me através da camisa e a fazer-me suar de novo.
- Se é isso que queres - disse Jamie, sorrindo. - Então, de que é que querias falar comigo?
Jamie levou as mãos à cabeça e começou a arranjar o cabelo. Que eu reparasse, o cabelo não tinha mudado um centímetro. Respirei fundo, tentando ganhar coragem, mas não conseguia obrigar-me a fazer a pergunta ainda.
- Então - disse em vez disso - estiveste no orfanato hoje?
Jamie olhou-me curiosa.
- Não. Eu e o meu pai estivemos no consultório do médico.
- Ele está bem?
Ela sorriu.
- Não podia estar melhor.
Acenei com a cabeça e olhei de relance para o outro lado da rua. Mrs. Hastings tinha voltado para dentro de casa, e não vi mais ninguém nas proximidades. A costa finalmente estava livre, mas ainda não estava pronto.
- Está um belo dia - disse eu, ganhando tempo.
- Sim, está.
- Quente, também.
- Isso é porque estás ao sol.
Olhei em volta, sentindo a tensão a aumentar.
- Olha, aposto que não há uma única nuvem no céu.
Desta vez, Jamie não respondeu e permanecemos em silêncio durante alguns momentos.
- Landon - disse ela, por fim - não vieste aqui para falar do tempo, pois não?
- Na verdade, não.
- Então por que é que estás aqui?
O momento da verdade tinha chegado. Aclarei a garganta.
- Bem... queria saber se vais ao baile de regresso às aulas.
- Ah - disse ela. Pelo tom da voz até parecia que desconhecia a existência de tal coisa. Mexi-me irrequieto na cadeira e aguardei a resposta.
- Na verdade, não tinha pensado em ir - disse Jamie finalmente.
- Mas se alguém te convidasse, irias talvez?
Levou um momento a responder.
- Não tenho a certeza - disse, pensando com cuidado.
- Suponho que sim, se tivesse oportunidade. Nunca fui a um baile de regresso às aulas.
- São divertidos - disse eu rapidamente. - Não muito divertidos, mas divertidos. - Especialmente quando comparado às minhas outras opções, não acrescentei.
Ela sorriu perante o meu recuo.
- Teria de falar com o meu pai, claro, mas se ele dissesse que não havia problema, então suponho que talvez fosse.
Na árvore junto à varanda, um pássaro começou a chilrear ruidosamente, como se soubesse que eu não deveria estar ali. Concentrei-me no som, tentando acalmar os nervos. Há dois dias apenas não me poderia ter imaginado a pensar naquilo sequer, mas de repente, ali estava, ouvindo-me a proferir as palavras mágicas.
- Bem, gostarias de ir ao baile comigo?
Percebi que tinha ficado surpreendida. Penso que ela julgara a pequena conversa que conduzira à pergunta um preâmbulo para o convite de outra pessoa. Por vezes, os adolescentes mandam os amigos "estudar o terreno", por assim dizer, para não terem de encarar uma possível rejeição. Apesar de Jamie não ser muito parecida com os outros adolescentes, tenho a certeza de que estava familiarizada com o conceito, pelo menos em teoria.
Em vez de responder imediatamente, todavia, Jamie virou a cara durante um longo momento. Senti uma sensação de vazio no estômago, porque presumi que ela iria dizer que não. Visões da minha mãe, vomitado e Carey inundaram-me a mente, e, de súbito, arrependi-me da maneira como me havia comportado em relação a ela durante todos aqueles anos. Lembrei-me de todas as vezes que tinha zombado dela, ou chamado fornicador ao pai, ou simplesmente ter feito pouco dela atrás das costas. No preciso momento em que me estava a sentir pessimamente com tudo aquilo e a imaginar como é que iria conseguir evitar Carey durante cinco horas, ela voltou-se e olhou de novo para mim. Tinha um ligeiro sorriso nos lábios.
- Adoraria - disse ela, por fim. - Com uma condição.
Eu preparei-me, esperando não ser alguma coisa demasiado horrível.
-Sim?
- Tens de prometer que não te vais apaixonar por mim.
Sabia que estava a brincar pela maneira como se riu, e não pude deixar de suspirar de alívio. às vezes, tinha de admitir, Jamie revelava bastante sentido de humor.
Sorri e dei-lhe a minha palavra.

CAPÍTULO 3

Embora Jamie nunca tivesse ido a um baile de regresso às aulas, já tinha ido a bailes da igreja. Não dançava mal - eu também já estivera em alguns desses bailes e tinha-a visto
mas, para ser franco, era bastante difícil adivinhar como é que se sairia com alguém como eu. Nos bailes da igreja dançava sempre com pessoas mais velhas, porque ninguém da sua idade a convidava. E dançava muito bem aqueles estilos que tinham sido populares há cerca de trinta anos. Sinceramente, não sabia o que esperar dela.
Confesso que também estava um pouco preocupado com o que ela iria vestir, embora não fosse assunto do qual lhe fosse falar. Quando Jamie ia aos bailes da igreja vestia normalmente uma camisola velha e uma das saias de xadrez que víamos na escola todos os dias, mas o baile do regresso às aulas devia ser especial. A maioria das garotas compravam vestidos novos e os rapazes vestiam fatos e, naquele ano, íamos contratar um fotógrafo. Sabia que Jamie não ia comprar um vestido novo, porque não era propriamente rica. A profissão de sacerdote não dava muito dinheiro. Mas claro que os pastores não escolhiam essa ocupação por razões financeiras, escolhiam-na por vocação. Mas também não queria que ela vestisse a mesma coisa que levava para a escola todos os dias. Não tanto por mim - não sou assim tão insensível - mas por causa do que os outros pudessem dizer. Não queria que as pessoas troçassem dela ou algo do gênero.
As boas notícias, se é que havia boas notícias, foram que o Eric não me arreliou muito a propósito da minha escolha porque estava demasiado ocupado a pensar na sua própria parceira. Ele ia com Margaret Hays, a chefe da claque principal da nossa escola. Não era a mais esperta das meninas, mas era gira à sua maneira. Por gira refiro-me, claro, às pernas. Eric ofereceu-se para irmos trocando de par ao longo da noite, mas recusei porque não queria correr qualquer risco de ele troçar de Jamie. Era bom rapaz, mas podia ser um pouco cruel às vezes, especialmente depois de alguns copos de bourbon.
No dia do baile, estive bastante atarefado. Passei a maior parte da tarde ajudando a decorar o ginásio e tinha de estar em casa de Jamie cerca de meia hora mais cedo, porque o pai dela queria falar comigo, embora eu não soubesse porquê. Jamie surpreendera-me com esta exigência apenas na véspera, e não posso dizer que tenha ficado entusiasmado com a perspectiva. Imaginei que me fosse falar da tentação e do caminho pernicioso do pecado a que ela nos podia conduzir. Mas se viesse com a história da fornicação, eu sabia que ia cair morto ali mesmo. Rezei pequenas orações o dia inteiro na esperança de evitar aquela conversa, mas não tinha a certeza de que Deus fosse dar prioridade às minhas preces, por causa do modo como me havia comportado no passado. Ficava bastante nervoso só de pensar no assunto.
Depois de tomar um ducha, vesti o meu melhor fato, passei a correr pela florista para comprar flores para a Jamie e dirigi-me à casa dela. A minha mãe emprestou-me o carro e estacionei-o mesmo em frente à casa de Jamie. A hora ainda não tinha mudado, por isso havia ainda luz na rua quando cheguei e percorri o caminho esburacado em direção à porta. Bati e esperei um momento, depois bati novamente. Por trás da porta, ouvi Hegbert dizer "Já vou", mas não vinha propriamente a correr. Devo ter esperado ali mais ou menos dois minutos, a olhar para a porta, os ornatos, as pequenas fendas nos peitoris das janelas. A um canto, estavam as cadeiras onde eu e Jamie estivéramos sentados apenas alguns dias antes.
Aquela em que me havia sentado ainda estava virada na direção oposta. Supus que ninguém tinha estado ali durante os últimos dias.
Finalmente, a porta abriu-se, rangendo. A luz do candeeiro de dentro obscurecia ligeiramente o rosto de Hegbert e parecia refletir-se através do seu cabelo. Era velho, como já disse, setenta e dois anos pelos meus cálculos. Era a primeira vez que o via de tão perto, e conseguia ver-lhe todas as rugas no rosto. A pele era realmente translúcida, até mais do que eu tinha imaginado.
- Olá, Reverendo - disse eu, engolindo a minha ansiedade. - Estou aqui para levar a Jamie ao baile.
- Claro que está - disse ele. - Mas primeiro quero falar consigo.
- Sim, Reverendo, foi por isso que vim cedo.
- Entre.
Na igreja, Hegbert vestia-se de maneira muito elegante, mas naquele momento parecia um agricultor, com um fato-macaco e uma T-shirt. Fez-me sinal para me sentar na cadeira de madeira que trouxera da cozinha.
- Desculpe ter demorado um pouco a abrir a porta. Estava a trabalhar no sermão de amanhã - disse.
Sentei-me.
- Não tem importância, Reverendo. - Não sei porquê, mas tínhamos mesmo de o tratar por "Reverendo". Era como se ele projetasse essa imagem.
- Muito bem, então, fale-me de si.
Achei que era um pedido um tanto ridículo, tendo ele estado envolvido há tanto tempo com a minha família. Foi também ele que me batizou, e desde que eu era bebê que me via na igreja todos os domingos.
- Bem, Reverendo - comecei, não sabendo bem o que dizer - Sou presidente da associação de estudantes. Não sei se Jamie lhe falou nisso.
Acenou que sim com a cabeça.
- Falou. Continue.
- E... bem, espero ir para a Universidade da Carolina do Norte no próximo Outono. Já recebi o formulário da candidatura.
Acenou novamente com a cabeça.
- Mais alguma coisa?
Tenho de admitir que estava a ficar sem nada para dizer depois daquilo. Uma parte de mim queria pegar no lápis ao canto da mesa e começar a equilibrá-lo, demonstrando-lhe o que podia fazer durante trinta segundos, mas ele não era o gênero de pessoa para apreciar tal coisa.
- Creio que não, Reverendo.
- Importa-se que lhe faça uma pergunta?
- Não, Reverendo.
Olhou-me durante um bom bocado, como se estivesse a meditar sobre a pergunta.
- Por que é que pediu à minha filha para ir ao baile consigo? - perguntou finalmente.
Fiquei surpreendido, e sabia que a minha expressão o demonstrava.
- Não percebo o que quer dizer, Reverendo.
- Não está a planear fazer nada para... a embaraçar, pois não?
- Não, Reverendo - disse rapidamente, chocado com a acusação. - De maneira nenhuma. Precisava de alguém para me acompanhar, e pedi a Jamie. É tão simples quanto isso.
- Não tem nenhuma partida planeada?
- Não, Reverendo. Não faria isso com ela...
Isto continuou durante mais alguns minutos - ele a interrogar-me cerradamente acerca das minhas verdadeiras intenções, mas, por sorte, Jamie surgiu de um dos quartos das traseiras e o pai e eu viramo-nos para ela ao mesmo tempo. Hegbert finalmente parou de falar, e eu soltei um suspiro de alívio. Jamie vestia uma bonita saia azul e uma blusa branca que eu nunca tinha visto antes. Felizmente, tinha deixado a camisola no armário. Não estava mal, tinha de admitir, embora soubesse que, comparada com as outras, no baile, iria mesmo assim parecer mal vestida. Como sempre, tinha o cabelo apanhado. Por mim, achava que teria ficado melhor com ele solto, mas essa era a última coisa que queria dizer. Jamie parecia... Bem, Jamie parecia exatamente ela própria, mas pelo menos não fazia tensão de trazer a Bíblia consigo. Isso seria de mais para se agüentar.
- Não está a ser difícil com o Landon, pois não? - perguntou alegremente ao pai.
- Estávamos apenas a conversar - disse eu rapidamente antes de ele ter oportunidade de responder. Por alguma razão, não achava que ele tivesse falado com Jamie sobre o tipo de pessoa que ele pensava que eu era, e não considerava que aquela fosse boa altura para o fazer.
- Bem, se calhar, devíamos ir - sugeriu ela depois de um momento. Acho que pressentiu a tensão no ar. Dirigiu-se ao pai e deu-lhe um beijo na face. - Não fique até muito tarde a trabalhar naquele sermão, está bem?
- Está bem - disse ele baixinho. Mesmo comigo ali na sala, pude perceber que ele a amava verdadeiramente e que não tinha medo de o mostrar. O problema era o que pensava a meu respeito.
Despedimo-nos e a caminho do carro entreguei a Jamie as flores, dizendo-lhe que lhe mostraria como colocá-las ao peito quando estivéssemos dentro do carro. Abri-lhe a porta e dirigi-me para o outro lado, entrando também. Nesse pequeno período de tempo, Jamie já tinha colocado as flores ao peito.
- Não sou propriamente uma imbecil, sabes. Sei como se prendem as flores ao peito.
Pus o carro a trabalhar e segui em direção à escola. A conversa que acabara de ter com Hegbert dava-me voltas à cabeça.
- O meu pai não gosta muito de ti - disse ela, como se adivinhasse o que eu estava a pensar.
Acenei com a cabeça sem dizer nada.
- Acha que és irresponsável.
Acenei de novo.
- Também não gosta muito do teu pai.
Acenei com a cabeça mais uma vez.
- Ou da tua família.
- Já percebi.
- Mas sabes o que eu acho? - perguntou de repente.
- Não. - Por esta altura já estava bastante abatido.
- Acho que tudo isto estava de alguma maneira nos desígnios de Deus. O que é que achas que é a mensagem?
Pronto, lá vamos nós, pensei para comigo.
Duvido que a noite pudesse ter sido muito pior, se querem saber a verdade. A maior parte dos meus amigos manteve-se à distância. Depois, Jamie não tinha muitos amigos, por isso passamos a maior parte do tempo sozinhos. Pior ainda, descobri que, afinal, a minha presença já não era necessária. Tinham alterado as regras devido ao fato de Carey não ter conseguido arranjar par, e isso fez-me sentir bastante incomodado. Mas, lá por causa do que o pai dela me dissera, não ia levá-la para casa mais cedo, não é verdade? E mais, ela estava mesmo a divertir-se; até eu podia perceber isso. Adorou as decorações que eu ajudara a montar, adorou a música, adorou tudo no baile. Dizia-me constantemente que achava tudo uma maravilha e perguntou-me se poderia ajudá-la a decorar a igreja um dia, para um dos bailes que viessem a organizar. Murmurei meio contrafeito que podia telefonar-me e, apesar de o ter dito sem nenhum indício de energia, Jamie agradeceu-me por ser tão atencioso. Para ser franco, senti-me deprimido durante pelo menos a primeira hora, embora ela parecesse não notar.
Jamie tinha de estar em casa às onze da noite, uma hora antes de o baile terminar, o que tornava as coisas um pouco mais fáceis de suportar. Logo que a música começou, fomos dançar e descobri que ela dançava bastante bem melhor até que algumas das outras meninas e isso ajudou um pouco a passar o tempo. Deixou-se conduzir bastante bem durante cerca de uma dúzia de canções e, depois disso, dirigimo-nos às mesas e tivemos o que se assemelhou a uma conversa normal. Claro, soltou palavras como "fé" e "júbilo" e até "salvação" no meio da conversa e falou sobre ajudar os órfãos e salvar animaizinhos da auto-estrada, mas parecia realmente tão alegre que era difícil sentir-me em baixo durante muito tempo.
Daí que as coisas não tivessem corrido assim tão mal ao princípio, e, realmente, não foi pior do que aquilo que eu já esperava. Só quando Lew e Angela apareceram é que tudo começou mesmo a azedar.
Entraram poucos minutos depois de nós termos chegado. Ele vestia aquela T-shirt estúpida, os Camels na manga e uma crista de gel no cabelo à frente. Angela colou-se toda a ele logo desde o principio do baile, e não era preciso ser gênio para perceber que tinha bebido uns copos antes de ali chegar. O seu vestido era verdadeiramente vistoso - a mãe dela trabalhava num salão de cabeleireira e estava a par das últimas modas e reparei que tinha adquirido aquele hábito elegante de mascar pastilhas elásticas. Moia mesmo aquela pastilha, mascando-a quase como um ruminante.
Ora bem, o bom do Lew acrescentou álcool à tigela do ponche e algumas pessoas começaram a ficar tontas. Quando os professores descobriram, grande parte do ponche já tinha desaparecido e muitos dos presentes começavam a ficar com aquela expressão vítrea nos olhos. Quando vi Angela a beber o segundo copo, senti que devia ficar atento a ela. Apesar de me ter trocado por outro, eu não queria que nada de mal lhe acontecesse. Foi a primeira menina que beijei com a língua e, apesar de os nossos dentes terem chocado com tanta força na primeira vez, de tal modo que até vi estrelas e tive de tomar uma aspirina quando cheguei a casa, ainda sentia alguma coisa por ela.
Ali estava eu, sentado ao lado de Jamie, mal ouvindo as suas descrições das maravilhas do campo de férias da igreja, observando Angela pelo canto do olho, quando Lew deu comigo a olhar para ela. Num gesto nervoso, agarrou Angela à volta da cintura e arrastou-a até à nossa mesa, lançando-me um daqueles olhares desafiadores e perigosos. Sabem do que estou a falar.
- Estavas a olhar para a minha namorada? - perguntou, retesando-se.
-Não.
- Estava, pois - disse Angela, arrastando as palavras. Ele estava a olhar fixamente para mim. - Este é o meu antigo namorado, aquele de que te falei.
Os olhos dele semicerraram-se, como acontecia com os de Hegbert. Parece que provoco esse efeito em muitas pessoas.
- Então és tu? - perguntou ele, sorrindo com desdém.
Pois é, eu não sou muito dado a lutas. A única luta em que me envolvi foi no terceiro ano, e parece que a perdi logo, pois comecei a chorar mesmo antes de o outro rapaz me bater. Normalmente, não tinha grande dificuldade em manter-me afastado desse gênero de situações devido à minha natureza passiva e, para além disso, ninguém se metia comigo quando Eric estava por perto. Mas agora Eric estava algures lá fora com Margaret, provavelmente por trás das bancadas, em lado nenhum que se pudesse ver.
- Não estava a olhar - respondi finalmente - e não sei o que é que ela te disse, mas duvido que tenha sido verdade.
Lew semicerrou de novo os olhos.
- Estás a chamar mentirosa à Angela? - perguntou desdenhosamente.
Acho que ele me teria dado um soco ali mesmo, mas Jamie, de súbito, meteu-se na conversa.
- Não te conheço de algum lado? - perguntou alegremente, olhando-o no rosto. às vezes, Jamie parecia não se aperceber de situações que estavam a ocorrer mesmo à sua frente. - Espera, sim, conheço! Trabalhas na oficina do centro. O teu pai chama-se Joe e a tua avó vive na Foster Road à saída da cidade, perto da passagem de nível.
Uma expressão confusa instalou-se no rosto de Lew, como se estivesse a tentar compor um puzzle com demasiadas peças.
- Como é que sabes tudo isso? O que é que ele fez, também esteve a falar de mim?
- Não - respondeu Jamie - que disparate! - Riu-se sozinha. Só Jamie conseguia encontrar motivo para rir numa altura daquelas. - Vi uma fotografia tua na casa da tua avó. Eu ia a passar, e ela precisava de ajuda para levar as compras para dentro de casa. A foto estava em cima da lareira.
Lew olhava para Jamie como se ela tivesse espigas de milho a crescer-lhe nas orelhas.
Entretanto, Jamie abanava-se com a mão.
- Bem, viemo-nos sentar aqui para descansar um pouco depois de toda aquela dança. Faz mesmo calor ali. Querem juntar-se a nós? Temos duas cadeiras a mais. Adorava saber como tem passado a tua avó!
Ela parecia tão contente com tudo aquilo que Lew não sabia o que fazer. Ao contrário de nós, que estávamos habituados aquelas coisas, ele nunca conhecera ninguém como Jamie. Hesitou alguns momentos, tentando decidir se deveria esmurrar ou não o tipo que estava com a mulher que tinha ajudado a sua avó. Se vos parece confuso, imaginem o que se estava a passar naquele cérebro danificado pelos vapores da gasolina de uma oficina.
Por fim, foi-se embora sem responder, covardemente, levando Angela consigo. De qualquer maneira, Angela já se devia ter esquecido de como tudo aquilo havia começado, devido ao que já tinha bebido. Jamie e eu vimo-lo partir, e quando ele estava a uma distância segura, eu respirei de alívio. Nem sequer me dera conta de que tinha estado a reter a respiração.
- Obrigado - murmurei timidamente, apercebendo-me de que fora Jamie, quem havia de dizer, que me tinha salvo de graves danos físicos.
Jamie olhou de modo estranho para mim.
- Porquê? - perguntou, e como eu não lhe explicasse tudo com exatidão, voltou logo para a sua história do campo de férias, como se nada tivesse acontecido. Mas, desta vez, dei por mim realmente a escutá-la, pelo menos com um dos ouvidos. Era o mínimo que eu podia fazer.
Acontece que aquela não foi a última vez que vimos Lew e Angela nessa noite. Os dois copos de ponche tinham mesmo dado volta à menina, que acabou por vomitar na casa de banho das senhoras. Lew, sendo o cavalheiro que era, foi-se embora quando a ouviu vomitar, saindo furtivamente por onde tinha entrado. Foi a última vez que o vi. Jamie, quis assim o destino, foi quem encontrou Angela na casa de banho, e era evidente que Angela não estava muito bem. A única coisa a fazer era limpá-la e levá-la para casa antes que os professores descobrissem. Apanhar uma bebedeira era um caso muito grave naqueles tempos e, se fosse apanhada, corria o risco de ser suspensa, talvez até expulsa.
Jamie, Deus a abençoe, não queria que isso acontecesse. Eu também não, ainda que pudesse ter pensado de outra maneira se me tivessem perguntado de antemão, dado Angela ser menor e estar a violar a lei. Também tinha quebrado outra das regras de conduta de Hegbert. Hegbert reprovava severamente a violação da lei' e o consumo de álcool, e apesar de isso o não arrebatar tanto como a fornicação, todos sabíamos que levava tais casos muito a sério. Calculávamos que Jamie pensasse da mesma maneira. E talvez pensasse, mas o seu instinto de ajuda deve ter-se apoderado dela. Provavelmente, olhou para Angela e pensou "animalzinho ferido" ou coisa parecida, tomando de imediato conta da situação. Então fui à procura de Eric e encontrei-o atrás das bancadas. Concordou em ficar de guarda à porta da casa de banho enquanto Jamie e eu a limpávamos. A Angela tinha feito um belo trabalho, digo-vos. O vomitado estava por tudo o que era sítio menos na retrete. Nas paredes, no chão, nos lavatórios, até no teto, mas não me perguntem como é que ela conseguiu esse feito. Portanto, ali estava eu, de joelhos e mãos no chão, a limpar vomitado no baile de regresso às aulas no meu melhor fato azul, exatamente o que quisera evitar desde o princípio. E Jamie, o meu par, também estava de joelhos e mãos no chão, fazendo exatamente o mesmo.
Quase que podia ouvir o riso esganiçado de Carey algures, ao longe.
- Por favor, não contes nada disto ao teu pai - pedi.
- Está bem - concordou ela. Continuava a sorrir quando, finalmente, se voltou para mim. - Diverti-me muito hoje à noite. Obrigado por me teres levado ao baile.
Ali estava ela, coberta de vomito, a agradecer-me por aquela noite. Jamie Sullivan, às vezes, era mesmo capaz de dar com um tipo em doido.
Acabamos por sair às escondidas pela porta das traseiras do ginásio, mantendo Angela equilibrada entre nós, segurando-a para que se mantivesse de pé. Estava sempre a perguntar por Lew, mas Jamie dizia-lhe para não se preocupar. Tinha uma maneira verdadeiramente tranqüilizadora de falar com Angela, apesar de esta se encontrar tão fora de si que duvido que soubesse sequer quem é que estava a falar. Levado para o banco de trás do meu carro, onde desmaiou logo a seguir, mas não antes de ter vomitado mais uma vez no chão do carro. O cheiro era tão horrível que tivemos de abrir as janelas para não sufocarmos, e o caminho para a casa de Angela parecia mais longo que o habitual. A mãe dela veio à porta, olhou para a filha e levou-a para dentro de casa sem dar sequer uma palavra de agradecimento. Penso que se sentia envergonhada, e nós, de qualquer maneira, não tínhamos muito para lhe dizer. A situação falava por si.
Quando a deixamos eram já dez e quarenta e cinco e seguimos diretamente para a casa de Jamie. Fiquei bastante preocupado quando lá chegamos por causa da sua aparência e do cheiro, e rezei em silêncio para que Hegbert não estivesse acordado. Não queria ter de lhe explicar o que se tinha passado. Bem, por certo daria ouvidos a Jamie se fosse ela a contar, mas tinha um pressentimento de que, de qualquer maneira, ele arranjaria maneira de me culpar.
Acompanhei-a, então, até à porta e detivemo-nos no lado de fora sob a luz da varanda. Jamie cruzou os braços e esboçou um sorriso, dando a impressão de ter acabado de chegar de um calmo passeio noturno em que estivera a apreciar a beleza do mundo.