segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

CAPÍTULO 10


Mais tarde, naquela noite, levei Jamie a casa. A principio não tinha a certeza se deveria tentar o velho truque de bocejar e estender o braço sobre os seus ombros mas, para ser sincero, não sabia exatamente o que ela sentia por mim. Certo, oferecera-me o mais admirável presente que jamais recebera e, apesar de, provavelmente, nunca o ir abrir e ler como ela fazia, sabia que era como se ela me tivesse oferecido parte de si mesma. Mas Jamie era o tipo de pessoa capaz de doar um rim a um estranho que conhecesse na rua, se ele realmente precisasse. Por isso, não sabia exatamente o que pensar.
Jamie dissera-me uma vez que não era nenhuma imbecil, e suponho que, finalmente chegara à conclusão de que, de fato, não era. Ela podia ser... Bem, diferente... Mas descobrira o que eu tinha feito pelos órfãos e, olhando para trás, penso que já o sabia mesmo quando estávamos sentados no chão da sua sala de estar Quando ela disse que aquilo era um milagre, suponho que estava a referir-se a mim especificamente.
Hegbert lembro-me, entrara na sala quando eu e Jamie falávamos no assunto, mas, na verdade, não tivera muito que dizer. O velho Hegbert não andava bem nos últimos tempos, pelo menos tanto quanto eu conseguia perceber. Os seus sermões ainda falavam de dinheiro, e ainda se referia aos fornicadores, mas ultimamente eram mais curtos do que o habitual e de vez em quando parava a meio de um apoderando-se dele uma expressão estranha, como se estivesse a pensar noutra coisa, em algo triste.
Eu não sabia o que pensar daquilo, uma vez que, na realidade, não o conhecia assim tão bem. E Jamie, quando falava dele, parecia descrever outra pessoa completamente diferente. Era-me tão difícil imaginar Hegbert com sentido de humor como era imaginar duas luas no céu.
Bem, prosseguindo, ele entrou na sala quando estávamos a contar o dinheiro. Jamie levantou-se com lágrimas nos olhos, e Hegbert parece nem ter percebido que eu estava presente. Disse a Jamie que se sentia orgulhoso dela e que a amava, mas depois arrastou os pés de volta para a cozinha para continuar a trabalhar no seu sermão. Nem sequer me cumprimentou. Bem, eu sabia que não era propriamente o moleque mais religioso da comunidade, mas, ainda assim, achei o seu comportamento algo estranho.
Enquanto pensava em Hegbert, observava Jamie sentada a meu lado. Olhava pela janela com uma expressão tranqüila no rosto, quase a sorrir, mas muito distante ao mesmo tempo. Sorri. Se calhar, estava a pensar em mim. A minha mão começou a fugir ao longo do assento para mais próximo da dela, mas, antes de a poder alcançar, Jamie quebrou o silêncio.
- Landon - perguntou, finalmente, virando-se para mim - Costumas pensar em Deus?
Retirei a mão.
Bem, quando eu pensava em Deus, normalmente imaginava-o como naquelas pinturas antigas que tinha visto nas igrejas - um gigante pairando sobre a paisagem, trajando vestes brancas, com cabelo comprido e flutuante, apontando o dedo - mas sabia que ela não se referia a isso. Estava a falar dos desígnios de Deus. Levei algum tempo para responder.
- Claro - respondi. - às vezes, suponho.
- Nunca te perguntas por que é que as coisas têm de ser da maneira como são?
Fiz que sim com a cabeça, hesitante.
- Tenho pensado muito nisso ultimamente.
Mais até do que o costume? Quis perguntar, mas não o fiz. Percebi que ela tinha mais para dizer e fiquei calado.
- Eu sei que Deus tem um plano para todos nós, mas, às vezes, não consigo perceber a mensagem. Isso nunca te acontece?
Disse aquilo como se fosse algo em que eu pensasse o tempo todo.
- Bem - disse, tentando fingir que pensava no assunto - não creio que tenhamos sempre de a compreender. Acho que, às vezes, precisamos apenas de ter fé.
Foi uma resposta bastante boa, admito. Suponho que os meus sentimentos por Jamie estavam a fazer com que o meu cérebro trabalhasse um pouco mais depressa do que o habitual. Vi que ela estava a refletir na minha resposta.
- Sim - disse ela, por fim - tens razão.
Sorri para mim mesmo e mudei de assunto, uma vez que falar de Deus não era coisa que fizesse uma pessoa sentir-se romântica.
- Sabes - disse, descontraidamente - foi mesmo boa esta noite, sentada ao pé da árvore.
- Sim, foi - confirmou ela. A sua mente estava ainda noutro lado.
- E tu também estavas muito bonita.
- Obrigada.
Aquilo não estava a resultar muito bem.
- Posso fazer-te uma pergunta? - questionei por fim, na esperança de a trazer de volta para mim.
- Claro - respondeu ela.
Respirei fundo.
- Depois da missa amanhã, e, bem... Depois de teres passados algum tempo com o teu pai... Quer dizer... - Fiz uma pausa e olhei para ela. - Gostarias de vir a minha casa para o jantar de Natal?
Apesar de ter ainda o rosto virado para a janela, pude vislumbrar os vagos contornos de um sorriso.
- Sim, Landon, gostaria muito.
Suspirei de alivio, não acreditando que lhe tivesse mesmo perguntado aquilo e ainda a interrogar-me sobre como tudo tinha acontecido. Conduzi por ruas com montras decoradas com luzes de Natal e atravessei a Beaufort City Square. Alguns minutos mais tarde, quando estendi o braço ao longo do assento, consegui finalmente segurar na mão dela, e para completar uma noite perfeita, ela não a retirou.
Quando estacionamos em frente da casa dela, as luzes da sala de estar ainda estavam acesas e reparei em Hegbert atrás das cortinas. Suponho que estava à espera de Jamie para saber como tinha corrido a noite no orfanato. Ou era isso, ou queria certificar-se de que eu não beijaria a sua filha na soleira da porta. Sabia que ele não via estas coisas com bons olhos.
Pensava nisso no que fazer quando finalmente nos despedíssemos, quero dizer quando saímos do carro e nos dirigimos para a porta. Jamie parecia calma e satisfeita ao mesmo tempo, e penso que estava feliz por eu a ter convidado a ir a minha casa no dia seguinte. Como ela tinha sido suficientemente esperta para descobrir o que eu tinha feito pelos órfãos, imaginei que talvez o fosse também para compreender a situação presente. Na mente de Jamie, penso que ela percebeu que aquele fora a primeira vez que eu lhe pedira de livre vontade para estar comigo.
Mesmo quando chegávamos aos degraus da porta, vi Hegbert espreitar pelas cortinas e depois recuar. Como alguns pais, os de Ângela, por exemplo, isso queria dizer que eles sabiam que tínhamos chegado e que dispúnhamos de uns breves momentos até eles abrirem a porta. Normalmente, isso dava-nos tempo para fazer olhinhos um ao outro enquanto ganhávamos coragem para nos beijarmos.
Ora bem, eu não sabia se Jamie me beijaria; na verdade, duvidava que o fizesse. Mas tão bonita como ela estava, com o cabelo solto e com tudo o que tinha acontecido naquela noite, eu não queria perder a oportunidade se ela surgisse. Sentia já pequenas tremuras quando Hegbert abriu a porta.
- Ouvi-os chegar - disse ele baixinho. A sua pele estava amarelada, como de costume, mas parecia cansado.
- Boa noite, Reverenda Sullivan - disse eu, desapontado.
- Olá, Papá - disse Jamie alegremente, um segundo depois. - Quem me dera que pudesse ter vindo hoje à noite. Foi maravilhoso.
- Fico muito feliz por ti. - Ele pareceu recompor-se então e pigarreou. - Dou-te um tempinho para te despedires. Deixo-te a porta aberta.
Deu meia volta e regressou à sala de estar. De onde se tinha sentado, eu sabia que ele ainda nos podia ver. Fingia estar a ler, embora eu não conseguisse ver o que ele tinha nas mãos.
- Tive uma noite maravilhosa, Landon - disse Jamie.
- Eu também - respondi, sentindo os olhos de Hegbert em mim. Perguntava a mim mesmo se ele sabia que eu tinha segurado a mão dela no carro.
- A que horas devo estar em tua casa amanhã? - perguntou. A sobrancelha de Hegbert ergueu-se apenas um pouco.
- Eu venho buscar-te. Cinco horas, está bem?
Olhou por cima dos ombros.
- Papá, importa-se que vá jantar com Landon e os pais dele amanhã?
Hegbert levou a mão aos olhos e começou a esfregá-los. Suspirou.
- Se é importante para ti, podes ir - respondeu.
Não foi o voto de confiança mais entusiasmado que já ouvira, mas para mim chegava.
- Que devo levar? - perguntou ela. No Sul, era tradição fazer sempre essa pergunta.
- Não precisas de levar nada - respondi. Venho buscar-te as cinco menos um quarto.
Ficamos ali parados por um momento sem dizer nada, e pude perceber que Hegbert estava a ficar algo impaciente. Não tinha virado uma página do livro desde que se sentara.
- Vemo-nos amanhã - disse ela por fim.
- Está bem - retorqui.
Olhou para os pés durante um instante, depois de novo para mim.
- Obrigada por me teres trazido a casa.
Com isso, voltou-se e entrou. Mal pude ver o ligeiro sorriso docemente esboçado nos seus lábios quando espreitou pela porta mesmo antes de a fechar.

No dia seguinte, fui buscá-la à hora combinada e fiquei contente por ver que ela tinha novamente o cabelo solto. Vestia a camisola que eu lhe oferecera, tal como havia prometido.
Tanto a minha mãe como os meus pais ficaram um pouco surpreendidos quando lhes perguntei se não se importavam que Jamie viesse para jantar. Não era um problema de maior sempre que o meu pai estava em casa, a minha mãe pedia a Helen, a cozinheira, que fizesse comida suficiente para um pequeno exército.
Suponho que não tenha falado dela antes, da cozinheira. Em casa tínhamos uma empregada de limpeza e uma cozinheira, não só porque a minha família tinha dinheiro para tal, mas também porque a minha mãe não era lá muito boa dona de casa. Conseguia fazer uns sanduíches para o meu almoço de vez em quando, mas havia alturas em que a mostarda lhe manchava as unhas e precisava de pelo menos três ou quatro dias para se restabelecer. Sem Helen, eu teria sido criado a purê de batata queimado e bifes estorricados.
O meu pai, felizmente, percebera-se disso logo após o casamento e tanto a cozinheira como a empregada estava conosco desde antes de eu ter nascido.
Apesar de a nossa casa ser maior do que a maioria, não era um palácio, e nem a cozinheira, nem a empregada viviam conosco porque não tínhamos alojamentos separados nem nada disso.
O meu pai tinha comprado a casa devido ao seu valor histórico. Embora não fosse a casa onde Blackbeard vivera em tempos, o que teria sido mais interessante para alguém como eu, pertencera de fato a Richard Dobbs Spaight, que participara na assinatura da Constituição. Spaight também possuira uma quinta nos arredores de New Bem, que ficava a cerca de sessenta quilômetros dali estrada acima, e aí tinha sido sepultado. A nossa casa podia não ser tão famosa como aquela onde Dobbs Spaight estava sepultado, mas, ainda assim, proporcionava ao meu pai alguma legitimidade para se gabar nos corredores do Congresso e, sempre que ele dava passeios pelo jardim, podia vê-lo a sonhar com o legado que queria deixar. De certa maneira, isso me entristecia, pois, por mais que ele fizesse, nunca chegaria aos calcanhares do velho Richard Dobbs Spaight. Acontecimentos históricos como a assinatura da Constituição dão-se apenas uma vez em algumas centenas de anos e, por mais voltas que se dê, debater subsídios agrícolas para os agricultores de tabaco ou discutir o "perigo vermelho" nunca seria suficiente. Até alguém como eu sabia isso.
A casa estava mencionada no Registro Nacional de Monumentos Históricos ainda está, presumo e embora Jamie já a tivesse visitado, ficou ainda meio espantada quando lá entrou. A minha mãe e o meu pai estavam ambos muito bem vestidos, tal como eu, e a minha mãe cumprimentamos Jamie com um beijo na face. A minha mãe, não pôde evitar pensá-lo enquanto a observava, tinha-o conseguido antes de mim.
Tivemos um jantar agradável, bastante formal, com quatro pratos, embora não enfadonho, nem nada disso. Os meus pais e Jamie conversaram maravilhosamente isto faz-nos lembrar Miss Garber , e embora eu tentasse injetar na conversa o meu estilo particular de humor, na verdade, não tive grande êxito, pelo menos no que diz respeito aos meus pais. Jamie, contudo, ria-se, e tomei isso como um bom sinal.
Depois do jantar, convidei-a para dar um passeio pelo jardim, apesar de ser Inverno e de nada estar em flor. Depois de vestirmos os casacos, saímos para o ar frio de Dezembro. O ar da nossa respiração saia em pequenas baforadas.
- Os teus pais são pessoas maravilhosas - disse-me ela. Deduzi que não tinha levado os sermões de Hegbert muito a peito.
- São simpáticos - respondi à sua maneira. - A minha mãe é particularmente amorosa. - Disse isto não apenas porque era verdade, mas também porque era a mesma coisa que as crianças diziam de Jamie. Esperei que ela percebesse a indireta.
Deteve-se para olhar as roseiras. Pareciam paus retorcidos, e não percebi que interesse eles lhe podiam despertar.
- É verdade aquilo que dizem do teu avô? - perguntou-me. - As histórias que as pessoas contam?
Calculei que não percebera a minha indireta.
- Sim - respondi, tentando não mostrar a minha decepção.
- Isso é triste - disse ela simplesmente. - Há coisas mais importantes na vida do que o dinheiro.
- Eu sei.
Ela olhou para mim.
- Sabes mesmo?
Não a olhei nos olhos quando respondi. Não me perguntem porquê.
- Eu sei que aquilo que o meu avô fez estava errado.
- Mas não queres devolver o que ele tirou aos outros, pois não?
- Para ser franco, nunca pensei nisso.
- Mas serias capaz de o fazer?
- Não - respondi de imediato, e Jamie virou a cara. Estava a olhar de novo para as roseiras com os seus paus retorcidos e percebi, de repente, que ela teria querido que eu respondesse que sim. Era o que ela faria sem pensar duas vezes.
- Porque é que fazes isso? - deixei escapar antes de me conseguir deter. O sangue inundou-me depressa a face. - Fazer-me sentir culpado, quero dizer. Não fui eu que o fiz. Aconteceu simplesmente nascer nesta família.
Estendeu o braço e tocou num galho.
- Isso não quer dizer que não possas reparar o mal feito - disse suavemente - quando tiveres oportunidade.
A sua posição era evidente, até mesmo para mim, e eu lá no fundo sabia que ela tinha razão. Mas essa decisão, se alguma vez fosse tomada, vinha ainda muito longe. Do meu ponto de vista, tinha coisas mais importantes em mente. Mudei o assunto para algo com que me pudesse relacionar melhor.
- O teu pai gosta de mim? - perguntei. Queria saber se Hegbert me permitiria vê-la de novo.
Levou um momento para responder.
- O meu pai - disse ela devagar - preocupa-se comigo.
- Não o fazem todos os pais? - perguntei.
Olhou para os pés, depois de novo para o lado antes de se voltar para mim.
- Penso que com ele é diferente da maioria. Mas o meu pai gosta de ti e sabe que fico feliz quando posso estar contigo. É por isso que me deixou vir a tua casa jantar hoje à noite.
- Fico feliz por isso - disse, sinceramente.
- Também eu.
Olhamos um para o outro sob o luar de um quarto crescente, e quase a beijei logo ali, mas ela virou a cara um momento antes e pronunciou algo que me deixou um pouco perplexo.
- O meu pai também se preocupa contigo, Landon.
O modo como disse aquilo baixinho e triste ao mesmo tempo fez-me perceber que não era só por ele achar que eu era irresponsável, ou porque costumava esconder-me atrás das árvores e chamar-lhe nomes, ou até por eu pertencer à família Carter.
- Porquê? - perguntei.
- Pela mesma razão por que eu me preocupo contigo - respondeu. Não desenvolveu mais o assunto e eu soube imediatamente que ela estava a esconder-me alguma coisa, alguma coisa que não me podia contar, alguma coisa que também a entristecia. Mas foi só mais tarde que soube do seu segredo.

Estar apaixonado por uma menina como Jamie Sullivan era, sem dúvida, a coisa mais estranha por que tinha passado. Não só era uma menina em quem nunca tinha pensado até àquele ano apesar de termos crescido juntos, como havia alguma coisa de diferente na maneira como os meus sentimentos por ela tinham desabrochado. Não era como estar com Angela, que eu beijei logo na primeira vez que nos encontráramos a sós. Ainda não tinha beijado Jamie. Nem sequer a tinha abraçado, ou levado ao Cecil's Diner, ou até a um cinema. Não tinha feito nenhuma das coisas que normalmente fazia com as meninas e, no entanto, de alguma maneira, havia-me apaixonado. O problema era que ainda não sabia o que ela sentia por mim.
Havia, obviamente, alguns sinais que não me tinham passado despercebidos. A Bíblia fora, claro, o grande sinal, mas havia também a maneira como ela olhara para mim quando fechou a porta na véspera de Natal e me deixou segurar-lhe a mão quando regressávamos do orfanato. Na minha opinião, havia definitivamente alguma coisa ali, só não tinha a certeza de como dar o passo seguinte.
Depois de finalmente a ter levado a casa após o jantar de Natal, perguntei-lhe se não se importava que eu aparecesse lá em casa de vez em quando, e ela disse que estava bem. Fora exatamente assim que o dissera: "Está bem”.Não levei a mal a falta de entusiasmo
Jamie tinha a tendência de falar como um adulto, e penso que era também por isso que se dava tão bem com pessoas mais velhas.
No dia seguinte, fui a pé a casa dela e a primeira coisa em que reparei foi que o carro de Hegbert não estava à entrada da garagem. Quando ela abriu a porta, sabia o suficiente para não lhe perguntar se podia entrar.
- Olá, Landon - disse ela como sempre dizia, como se fosse uma surpresa ver-me. Tinha novamente o cabelo solto e vi isso como um bom sinal.
- Olá, Jamie - retorqui descontraidamente.
Ela apontou para as cadeiras.
- O meu pai não está em casa, mas podemos sentar-nos na varanda se quiseres...
Nem sequer me perguntem como aconteceu, porque ainda hoje não o consigo explicar. Num momento estava ali diante dela, esperando dirigir-me para o canto da varanda e, no momento seguinte, não estava. Em vez de me encaminhar para as cadeiras, avancei um passo para mais perto dela e dei por mim a pegar-lhe na mão. Tomei-a na minha e fixei-a com o olhar, aproximando-me só mais um pouco. Ela não recuou propriamente, mas os seus olhos dilataram-se, apenas um pouco e, durante um pequeníssimo, intermitente instante, pensei que tivesse feito mal e ponderei se deveria ir mais além. Parei e sorri, inclinando a cabeça para o lado e, logo a seguir, vi que ela tinha fechado os olhos e estava também a inclinar a cabeça e que os nossos rostos se estavam a aproximar um do outro.
Não demorou assim tanto tempo e, certamente, não foi o beijo que se vê nos cinemas hoje em dia, mas foi maravilhoso à sua maneira, e tudo o que consigo recordar daquele momento foi que, quando os nossos lábios se tocaram pela primeira vez, eu sabia que a recordação iria durar para sempre.

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